Proteger a biodiversidade para garantir o futuro

22 de Julho 2022

À medida que os ecossistemas selvagens vão sendo “ocupados”, adaptados e destruídos para suprir as necessidades de alimento, habitação, transporte e consumo desenfreado de uma espécie em crescimento – a nossa –, estamos a pôr o planeta em risco. E a própria sobrevivência da Humanidade.

Nos últimos 50 anos, as populações de mamíferos, pássaros, peixes, répteis e anfíbios em todo o planeta sofreram um declínio de 68 por cento. Este número, avançado pelo último relatório Living Planet Report, em 2020, soou como um grito de SOS, uma sirene para acordar líderes mundiais, cimeiras de países, investidores, gestores, lobistas, decisores, influenciadores de um modo geral e cada um de nós em particular.

O relatório, publicado de dois em dois anos pelo WWF (World Wide Fund for Nature) e pela Zoological Society of London, é uma das avaliações mais abrangentes das tendências da biodiversidade global e do estado dos ecossistemas. E é, por isso, um barómetro da saúde do planeta. Mas não é o único. Em 2019, o relatório da IPBES (Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços do Ecossistema) revelou que um milhão de espécies, entre fauna e flora, está em risco de extinção. Neste estudo de dimensão planetária, elaborado por 145 cientistas de 50 países, pode ler-se que muitas destas espécies irão desaparecer ao longo das próximas décadas, se nada mudar.

“Existem pontos muito críticos, como a Amazónia, com a desflorestação constante e sem precedentes dessa mancha de floresta, uma das mais valiosas do mundo”, aponta Ângela Morgado, diretora-executiva da Associação Natureza Portugal/WWF, ONGA (Organização Não Governamental de Ambiente) sem fins lucrativos que trabalha em alinhamento com a visão e estratégia global do WWF, World Wide Fund For Nature. “Mas não precisamos de ir tão longe. Na Europa, 63% das espécies e 81% dos habitats protegidos estão em mau estado de conservação”, acrescenta.  Na origem de toda esta destruição está a ação humana, sendo a agricultura e a pesca as maiores responsáveis pela alteração de ecossistemas que levam à perda de biodiversidade

Trazer a natureza de volta às nossas vidas

“Os compromissos para reverter a perda de natureza e travar as alterações climáticas são urgentes e ditarão a transformação do atual paradigma social e económico para uma sociedade mais sustentável, mais justa e mais resiliente”, considera Ângela Morgado.

“Para isso, são necessárias políticas claras, com objetivos específicos e mensuráveis, monitorização de resultados de projetos no terreno e investimento sério na conservação da natureza”, aponta. Por outro lado, defende que são necessários “compromissos claros das empresas, compensando a pressão que exercem sobre os recursos naturais e apoiando projetos de conservação da natureza”.

Ao consumidor, ou seja, a cada um de nós, “cabe o papel de ser mais responsável, em particular em áreas como a mobilidade, a utilização de água e a alimentação. Reduzir é a palavra-chave”, sublinha.

A um nível macro, a “Estratégia Europeia da Biodiversidade 2030”, que tem por objetivo “trazer a natureza de volta às nossas vidas”, é, de acordo com a Comissão Europeia, “um plano abrangente, ambicioso e a longo prazo para proteger a natureza e reverter o processo de degradação dos ecossistemas, que visa colocar a biodiversidade da Europa numa trajetória de recuperação até 2030, em benefício das pessoas, do clima e do planeta”. As suas grandes linhas orientadoras incluem:

  • Assumir a liderança na conservação da biodiversidade a nível mundial;
  • Fomentar uma rede de áreas protegidas à escala europeia, protegendo pelo menos 30% das terras e 30% dos mares;
  • Adotar compromissos concretos para restaurar ecossistemas degradados, como forma de reverter a perda de biodiversidade;
  • Incentivar a mudança, estabelecendo e assumindo medidas concretizáveis e vinculativas, através da criação de um Quadro Europeu de Governação da Biodiversidade.

De acordo com a Comissão Europeia, este é “um plano abrangente, ambicioso e a longo prazo para proteger a natureza e reverter o processo de degradação dos ecossistemas, que visa colocar a biodiversidade da Europa numa trajetória de recuperação até 2030, em benefício das pessoas, do clima e do planeta”.

“Todos nós estamos em perigo se não conseguirmos restaurar o capital natural, que é a base da nossa vida e das nossas economias.”

Ângela Morgado, diretora-executiva da ANP|WWF

Algumas espécies ameaçadas

Lobo-ibérico (Canis lupus signatus): em Portugal, a espécie está “em perigo” de extinção, ocupando hoje apenas 20 por cento do território que constituía o seu habitat natural. As populações têm vindo a aumentar graças a programas de proteção e recuperação, bem como ações de sensibilização que procuram destruir a ideia do “lobo mau”.

lobo-ibérico

Cavalo-marinho (Hippocampus hippocampus e Hippocampus guttulatus): na Ria Formosa vive uma das maiores colónias de cavalos-marinhos do mundo. Segundo dados do CCMAR (Centro de Ciências do Mar), estima-se que 90% da sua população tenha desaparecido nos últimos 20 anos.

cavalo marinho

Erva-pinheira-orvalhada (Drosophyllum lusitanicum): é uma planta carnívora, classificada como espécie “vulnerável” em Portugal. Existe apenas no nosso país e em Marrocos. O seu nome deve-se às gotas de uma substância pegajosa (muco) que cobrem as suas folhas e lhe permitem capturar os insetos de que se alimenta.

Erva-pinheira-orvalhada

Tigre (Panthera tigris): a população estimada de tigres no início do séc. XX rondaria os 100 mil. Em 2010, não existiriam mais de 3.200. A espécie continua classificada como “em perigo” de extinção pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza).

tigre