Quando a floresta preserva o património cultural

11 de Fevereiro 2025

A identificação e proteção de vestígios arqueológicos e outros monumentos são imprescindíveis para uma gestão florestal sustentável e certificada. Os muros apiários fazem parte desse valioso legado.

O património cultural conecta-nos com o passado e guia-nos em direção ao futuro. Enquanto caminhamos por florestas outrora habitadas, encontramos vestígios que testemunham outras épocas, tanto de tempos de glória como de períodos mais difíceis, revelando os desafios encontrados pelas gerações passadas e os diferentes modos de os superar.

Nas florestas geridas pela The Navigator Company, mentora do projeto My Planet, além de se respeitarem e preservarem os valores ambientais – como habitats relevantes para a vida silvestre, linhas de água e bacias hidrográficas ou espécies nativas de flora e fauna –, também se protege o património cultural. Este é constituído, de acordo com a Lei de Bases do Património Cultural, por “todos os bens que, sendo testemunhos com valor de civilização ou de cultura portadores de interesse cultural relevante, devam ser objeto de especial proteção e valorização”.

Introduzido pelo FSC (Forest Stewardship Council®), em 1999, o conceito de “Florestas de Alto Valor de Conservação” foca-se nos valores que tornam os ecossistemas florestais relevantes em termos de conservação e enquadra-se num dos Princípios e Critérios deste sistema internacional de certificação florestal: o princípio 9, que preconiza que “a organização deve manter e/ou melhorar os Altos Valores de Conservação presentes na Unidade de Gestão, através da aplicação do Princípio da Precaução”.

Atualmente, nas áreas florestais geridas pela Navigator em Portugal – 100% certificadas pelo FSC* – encontram-se registados 325 bens com valor cultural. Todos eles são alvo de medidas de proteção ativa, incluídas na gestão florestal responsável que a Navigator põe em prática todos os dias. Trata-se de um trabalho contínuo, que se tem intensificado nos últimos anos.

Apiários ancestrais 

Um exemplo notável deste património encontra-se em Idanha-a-Nova, na Herdade do Zambujo, propriedade da The Navigator Comapny. Nesta zona, destaca-se um extraordinário muro apiário – uma estrutura em alvenaria de xisto com 26 metros de diâmetro, encontrada na zona mais a norte da herdade, já na margem esquerda do ribeiro do Muro Alto.

Desde a Idade Média, em diversas regiões da Península Ibérica, foram construídas estruturas destinadas a proteger os colmeais da ação predatória dos mamíferos, em particular dos ursos. O número de muros numa determinada área está relacionado com a disponibilidade de recursos locais, a produção floral e a quantidade de cortiços. A boa exposição solar, a proteção face aos ventos dominantes e a proximidade de água, pólen e pedreiras revelam o engenho na conceção e construção destes mecanismos de proteção dos cortiços/colmeias.

Erguer um muro com estas características implicava um elevado investimento em tempo e recursos humanos, pelo que só um motivo muito forte o motivaria. A presença de um número significativo de ursos pardos na região poderia ser uma dessas razões. Pela importância económica que tiveram no passado, pelo seu estado de conservação, implantação, beleza e monumentalidade, considera-se do maior interesse proceder a um inventário sistemático deste tipo de construções.

Os muros apiários com características arquitetónicas arcaicas são, em alguns casos, testemunhas de uma longa utilização, provavelmente desde a Idade Média até aos dias de hoje, e constituem um elemento importante do nosso património construído. Têm, por isso, manifesto interesse turístico-didático, sendo preciosos elementos de apoio ao desenvolvimento local. Existe, ainda, a perspetiva de os reabilitar à sua função original, mantendo sempre as suas características arquitetónicas e procedendo às intervenções de consolidação e restauro necessárias.

Inovar na proteção dos vestígios do passado

Ciente da importância de salvaguardar e valorizar os valores culturais existentes nos espaços florestais sob sua responsabilidade, a Navigator tem realizado, ao longo dos últimos anos, um extenso trabalho de identificação deste património. O processo de inventariação tem beneficiado de novas ferramentas tecnológicas, com o telemóvel a tornar-se um instrumento prático e eficaz para os registos de campo.

Com recurso à aplicação QField – aplicação móvel de ligação ao software QGIS –, a Navigator criou um formulário que permite recolher e registar toda a informação relevante sobre os valores culturais identificados. Assim, os processos de prospeção arqueológica e, em última instância, de gestão ativa da floresta, tornam-se mais interativos e dinâmicos. As bases de dados, atualizadas com as coordenadas de cada bem cultural presente nas florestas da empresa, são integradas no planeamento das operações florestais, garantindo que a sua conservação não seja comprometida. Os trabalhos de arborização e rearborização podem mesmo incluir o acompanhamento de um arqueólogo certificado e, sempre que se justifique, são adotadas medidas de proteção mais específicas, baseadas em sugestões ou orientações de especialistas.

A adoção de abordagens mais eficientes na recolha de dados veio reforçar o compromisso da Navigator com a proteção do património cultural. Através de uma gestão florestal responsável, a empresa respeita e protege a floresta, e todos os seus bens e serviços, em benefício das gerações presentes e futuras.

 

*Licença nº FSC®–C010852