Chama-se Pando e desafia os conceitos tradicionais da botânica. Esta comunidade de álamos, nos EUA, é afinal uma única árvore. Reconhecida como o maior organismo vivo do planeta, pode ser, por isso, considerada a maior árvore do mundo.
Há um ditado que aconselha a não confundir a árvore com a floresta. Não se aplica no caso do Pando. Um olhar contemplativo sobre aquela comunidade de álamos no coração do Utah (nos Estados Unidos da América) não permite imaginar o segredo genético que tem apaixonado cientistas. Composta por 47 mil “árvores”, com copas em tons de amarelo-torrado, e ocupando uma área de mais de 43 hectares, parece uma floresta comum. Mas é, na realidade, um organismo único.
Todas essas “árvores”, da espécie álamo-trémulo (Populus tremuloides), estão interligadas por um sistema radicular subterrâneo e partilham o mesmo material genético. Ou seja, os milhares de álamos que compõem este bosque não podem ser considerados exemplares isolados, mas sim um único ser vivo, com uma rede labiríntica de raízes. São os rebentos dessas raízes que dão origem a novos exemplares geneticamente idênticos, permitindo que a árvore continue a expandir-se.
A descoberta deste segredo da natureza ocorreu na década de 1970, quando cientistas começaram a investigar as peculiaridades desta floresta, intrigados pela semelhança de cada exemplar de álamo entre si e pela forma como estavam distribuídos. A explicação acabou por se revelar revolucionária, pois não só veio desafiar a perceção comum sobre o que constitui um organismo, como pôs em evidência a capacidade única da natureza de criar sistemas interligados e duradouros.
O maior e mais pesado ser vivo do planeta
A palavra Pando significa “Eu espalho” (em latim) e o nome foi escolhido pela forma como este ser se “espalha” na paisagem, a partir dos rebentos das raízes, que crescem como novas árvores. É também conhecido, popularmente, como gigante trémulo, devido ao nome da espécie (álamo-trémulo).
A colónia clonal Pando é não só o maior, mas também o mais pesado ser vivo do planeta: todas as suas “árvores” juntas pesam mais de seis mil toneladas.
Uma extraordinária longevidade
A idade desta árvore permanece um mistério. Enquanto os rebentos individuais raramente ultrapassam os 130 anos de vida, o seu sistema radicular é muito mais antigo. Uma análise recente ao ADN das folhas, raízes e cascas por parte de investigadores do Instituto de Tecnologia da Geórgia, em Atlanta – mas que aguarda ainda a unanimidade científica —, sugere que o Pando pode ter entre 16 mil e 80 mil anos. Se assim for, trata-se também de um dos organismos vivos mais antigos do mundo.
A sua longevidade é resultado da sua reprodução assexuada: sem depender de sementes ou polinização, consegue mais facilmente resistir a condições adversas e ameaças.
A luta pela sobrevivência
Apesar da sua grande resiliência, este organismo enfrenta hoje novos desafios e apresenta sinais de declínio, segundo o Serviço Florestal dos Estados Unidos. O desenvolvimento urbano, a presença de espécies invasoras e algumas doenças estão a colocar em risco a sua estabilidade. Mas há outro fator que tem sido igualmente apontado como uma ameaça: animais herbívoros, ao alimentarem-se dos novos rebentos dos álamos, impedem que a árvore continue a expandir-se como tem feito há milhares de anos.
Investigadores da Universidade de Utah, bem como especialistas do Serviço Florestal dos Estados Unidos, temem que, sem medidas de proteção, a capacidade de regeneração do Pando possa ser prejudicada. O grande desafio, apontam, é aprender o máximo sobre as estratégias que este ser vivo tem desenvolvido para proteger o genoma, de forma a aplicar esse conhecimento na sua conservação – bem como na de outros organismos clonais.
Pando é não só o maior, mas também o mais pesado ser vivo do planeta: todas as suas “árvores” juntas pesam mais de seis mil toneladas.