A Inteligência Artificial (IA) é uma ferramenta poderosa, mas está longe de ser neutra – cada interação tem um custo para o meio ambiente. Promover a literacia digital, que passa por um uso mais responsável e consciente, é uma missão urgente, para os estados e as organizações. Mas também para cada um de nós. Saiba como fazer a sua parte
Um assistente virtual baseado em Inteligência Artificial (IA) consome 10 vezes mais eletricidade do que uma simples pesquisa no Google. Esta conclusão da ONU, sustentada pelo relatório Electricity 2024 – Analysis and forecast 2026 da Agência Internacional de Energia, expõe de forma clara o custo energético invisível por trás de cada interação digital. E os números não param por aqui: segundo a mesma agência, na Irlanda — um dos centros tecnológicos da Europa – os data centers poderão representar 35% de toda a energia consumida no país até 2026.
Este cenário levanta questões urgentes sobre a sustentabilidade da IA e a real dimensão do seu impacto no planeta. O crescimento exponencial da tecnologia, especialmente dos modelos generativos, está a acelerar a construção e operação destas estruturas que requerem grandes quantidades de eletricidade e água – não só para processar e armazenar dados, mas também para manter os servidores arrefecidos e operacionais. Um problema que se agrava caso essa energia provenha de fontes fósseis, contribuindo diretamente para as emissões de gases com efeito de estufa (GEE).
De acordo com o website Nau, da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), estima-se que atualmente existam mais de 11 mil data centers no mundo, responsáveis por cerca de 4% do consumo global de energia elétrica. É a China quem lidera em número de centros, mas gigantes tecnológicos americanos como Amazon, Google e Microsoft são os grandes impulsionadores desta infraestrutura, alimentando um ecossistema digital cada vez mais exigente do ponto de vista ambiental.
É urgente investir em literacia digital
O uso da IA ocorre muitas vezes de forma automática e inconsciente – seja no trabalho, em viagens ou até em tarefas rotineiras –, enquanto navegamos num smartphone e interagimos com um chatbot. Esta normalização silenciosa, combinada com baixos níveis de literacia digital, cria o cenário ideal para uma adesão acrítica, onde se usa sem se compreender, e sem uma clara consciência dos impactos ambientais no Planeta.
A utilização de energia pela IA deverá representar já entre 2 e 3% do total de emissões globais, cenário que tende a agravar-se à medida que mais pessoas e organizações fazem uso crescente da IA em múltiplos processos. Um estudo recente da Universidade do Massachusetts deixa uma ideia clara sobre a ordem de grandeza destas emissões: treinar um modelo de IA produz uma pegada de carbono equivalente a 300 toneladas de emissões de dióxido de carbono. Tal corresponde a 125 voos de ida e volta entre Nova Iorque e Pequim.
Perante esta realidade, tornou-se urgente reforçar a literacia em IA como condição essencial para um uso mais consciente e informado. É neste contexto que surge o regulamento europeu “AI Act”, em vigor de forma faseada desde 2024, que estabelece a obrigatoriedade de formação em literacia digital e ética para todos os que desenvolvem ou usam sistemas de IA – sejam empresas ou utilizadores individuais. Mais do que um contexto legal, este regulamento representa um instrumento estratégico para reduzir riscos éticos, sociais e ambientais associados à rápida adoção da tecnologia, promovendo uma cultura de responsabilidade partilhada.
Para que a IA se torne sustentável, tanto utilizadores individuais como organizações devem adotar práticas conscientes. No primeiro caso, há algumas medidas que podemos aplicar no dia-a-dia, de forma a minorar o nosso impacto do uso que fazemos da IA. Tome nota:
➡️ Evitar o uso desnecessário
Antes de usar um chatbot de IA, pergunte-se: “Preciso mesmo de usar IA para isto?” Tarefas simples como escrever um e-mail curto ou procurar uma informação comum podem ser realizadas sem recorrer à IA.
➡️ Agrupar perguntas ou pedidos
Se tiver mesmo de usar a Inteligência Artificial, em vez de várias interações curtas, junte tudo numa só pergunta mais completa – assim, reduz o número de chamadas aos servidores, o que diminui o consumo de energia e água.
➡️ Apagar conteúdos inúteis
Imagens ou vídeos gerados por IA representam, muitas vezes, ficheiros pesados. Elimine os que não vai usar, evitando acumular dados desnecessários na cloud.
➡️ Optar por modelos mais leves
Sempre que possível, use versões otimizadas ou “lite” de aplicações de IA, pois consomem menos recursos computacionais.
➡️ Preferir ferramentas com compromissos ambientais
Use plataformas que demonstram compromisso com a sustentabilidade (como compensação hídrica ou uso de energia renovável). Verifique a política ambiental do serviço que está a usar.
➡️ Fazer um uso responsável
Evite usar a IA como entretenimento. Por exemplo, gerar imagens só por diversão ou simular longas conversas sem uma necessidade real.