“Uns sentem a chuva, outros apenas se molham.” Qual é o seu caso?
A frase – que já foi atribuída a Bob Dylan, a Bob Marley, e, mais consensualmente, a Roger Miller –, mostra duas formas diferentes de lidar com a época da chuva que se aproxima. Quer o leitor seja um pluviófilo (termo informal que designa os amantes de dias chuvosos) ou alguém que apenas se molha, deixamos-lhe várias razões para gostar da chuva e encarar o inverno com otimismo.
A natureza gosta de chuva e nós gostamos da natureza
A precipitação é um elemento essencial do ciclo hidrológico, que movimenta a água entre os seus três grandes reservatórios naturais – oceanos, continentes e atmosfera. O calor do sol aquece as águas superficiais e provoca evaporação, levando a água a passar do estado líquido para gasoso e a ascender para a atmosfera. Quando lá chega, o vapor arrefece, acumula e condensa, criando as gotículas que formam nuvens e nevoeiros. Este processo de condensação precede a precipitação: quando as gotículas suspensas no ar ficam pesadas e caem no solo sob a forma de chuva.
Este ciclo da água conta com o importante contributo das florestas, uma vez que as árvores captam água através das suas raízes e devolvem-na para a atmosfera em forma de vapor, pelo efeito da transpiração. É neste circuito perfeito que ocorre a fotossíntese, que combina o crescimento das árvores e a consequente retenção de carbono, com a devolução à atmosfera de oxigénio e de água. Portanto, quando chover, inspire o ar puro e divirta-se!
Personalidade, chuva e felicidade
O Dr. Matt Killingsworth, investigador da Universidade de Harvard, criou, com um objetivo científico, a app Track Your Happiness, na qual as pessoas registam os seus níveis de felicidade durante atividades específicas. Os dados permitiram-lhe concluir que existe uma relação direta entre quem adora a chuva e várias características de personalidade que são fundamentais para a felicidade. Estas pessoas são práticas e vivem no momento. Também são mais confiantes e acham que raramente cometem um erro – sair para correr à chuva não foi um acidente, foi propositado! São resilientes nos tempos difíceis, escolhendo pensar que a chuva é uma oportunidade para as plantas crescerem. Aliás, concluiu o investigador, se precisar de conselhos num mau momento, escolha para confidente uma pessoa que goste de chuva: eles aceitam com naturalidade as coisas inevitáveis, veem beleza na tristeza e analisam os factos de diferentes pontos de vista.
Uma questão de hábito
Um estudo da UCLA (Universidade da Califórnia) pediu a alunos da Califórnia e do Centro-Oeste dos Estados Unidos para classificarem os seus níveis de felicidade e tentarem adivinhar qual o grau de felicidade dos estudantes da outra região. As previsões indicavam que quem vivia em locais com mais sol deveria ser mais feliz, mas os dados revelaram que os níveis de felicidade eram semelhantes. Os investigadores concluíram que tudo depende da perceção, ou seja, se houver sol todos os dias, as pessoas habituam-se e o bom tempo já não lhes provoca felicidade. Quer uma prova? De acordo com o World Happiness Report, um ranking dos países mais felizes do mundo, em 2022 o primeiro lugar foi ocupado pela pouco solarenga Finlândia, com um resultado de 7,8 numa escala de zero a 10, com a Dinamarca e a Islândia nos lugares seguintes… Portugal aparece em 56º lugar entre os 146 países analisados.
A água cai e o trabalho flui
O tempo chuvoso também parece ter um impacto positivo na produtividade. Um estudo de 2012, da Harvard Business School, descobriu que os empregados de um banco japonês terminavam os seus projetos mais depressa nos dias cinzentos do que nos dias de sol. De acordo com os cientistas, quando chove somos menos distraídos por pensamentos de atividades ao ar livre, por isso, mantemo-nos mais focados no trabalho. Uma forma de maximizar a eficiência laboral é, portanto, planear tarefas que exigem mais concentração para os dias de chuva e tarefas criativas para o “bom” tempo.
O efeito calmante da chuva
Ao característico cheiro libertado pela terra após a chuva, os cientistas chamaram “petricor”. Sabemos que é provocado por compostos químicos provenientes dos óleos das plantas, que se acumulam no solo e depois são libertados para o ar quando a chuva atinge o chão, e que funciona nos humanos como uma espécie de aromaterapia, com os investigadores a afirmar que o cheiro da chuva altera as ondas cerebrais humanas de formas associadas à calma e ao relaxamento. Um efeito que se acredita estar ligado a razões evolutivas, já que a chuva significava água e alimento, ou seja, sobrevivência, para os nossos antepassados.
Queimar calorias
Mais uma razão científica para sair de casa, bem-disposto, com o tempo chuvoso: um dia mais fresco, ou até uma roupa molhada, podem proporcionar uma queima adicional de calorias. Um estudo de 2015, da Universidade de Maastricht, avançou que a exposição regular a dias de “frio moderado e chuva, pode fornecer uma estratégia saudável e sustentável para aumentar o gasto de energia”. Isto porque, quando o corpo treme, face a temperaturas frescas, aumenta o metabolismo e a queima de gordura. Portanto, se quer perder uns quilinhos, tem nesta época chuvosa uma boa desculpa para se esquecer do chapéu.