Reduzir o desperdício alimentar

11 de Outubro 2022

É um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Porque é importante no combate à fome, mas também porque tem impacto na economia, no ambiente e nas alterações climáticas. Cada um de nós pode fazer mais para desperdiçar menos.

Um terço de todos os alimentos produzidos no mundo, a cada ano, acaba por se perder ou desperdiçar. Seja devido a más práticas nas fases de colheita e transporte (considerado perdas), seja nos canais de distribuição ou já nas mãos do consumidor final (considerado desperdício). Ao mesmo tempo, aumenta o número de pessoas afetadas pela fome – segundo Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), em 2021 foram 828 milhões, um aumento de 46 milhões em relação a 2020.

Mas além do impacto a nível social, as perdas e o desperdício alimentar têm consequências a nível económico e ambiental. Não são só os alimentos que são desperdiçados, mas também todos os recursos usados na sua produção. O problema afeta as três grandes crises planetárias: as alterações climáticas, a perda de natureza e de biodiversidade, e o impacto da poluição e resíduos. Segundo o Relatório de 2021 do Índice de Desperdício Alimentar, do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA), se a perda e o desperdício de alimentos fossem um país, seriam o terceiro maior em termos de emissões de gases com efeito de estufa. Só o desperdício de alimentos gera entre 8 e 10% das emissões globais.

A dimensão do fenómeno é tal que a ONU não podia deixar de o contemplar nos seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O 12º ODS é “Garantir Padrões de Consumo e de Produção Sustentáveis” e, no seu ponto 3, propõe-se a redução para metade do desperdício e da perda de alimentos até 2030. Como? “Fazendo mais e melhor com menos.”

Estados e organizações não governamentais estão a trabalhar nesse sentido. Mas cada cidadão, individualmente, tem também o seu papel. O desperdício de alimentos dos agregados familiares totaliza 570 milhões de toneladas por ano. Números do relatório do PNUA, que mostram como o consumidor final tem de estar envolvido neste esforço de redução do desperdício alimentar.

O que podemos fazer para desperdiçar menos?

Preparar um plano de refeições semanal. Este hábito é uma forma de combate ao desperdício, mas também uma estratégia para poupar tempo e dinheiro. Tenha em conta o que existe em casa e faça “revisões” regulares ao congelador, ao frigorífico e à despensa.

Preparar uma lista de compras em função do plano semanal, indicando os produtos necessários e as quantidades de cada um. Nunca ir às compras sem a lista é uma regra fundamental.

Arrumar o frigorífico de forma estratégica: as sobras de refeições mais recentes devem ser colocadas na parte de trás das prateleiras, deixando as mais antigas à frente, visíveis, para serem consumidas primeiro e não serem esquecidas. A mesma regra é válida para iogurtes ou outros produtos frescos.

Congelar. Não cair no erro de guardar para deitar fora mais tarde. As sobras das refeições podem ser logo congeladas em doses individuais, sobretudo quando há outros planos para as refeições seguintes. Não esquecer a indicação da data de congelamento. E respeitar, no congelador, a mesma lógica adotada no frigorífico: os produtos mais recentes atrás. Congelar também frutas ou legumes que estão em excesso.

Acondicionar os vegetais. Dentro do frigorífico, guardar legumes e verduras embrulhados em papel de cozinha ou sacos de papel: assim a humidade da condensação será absorvida e irão manter-se mais tempo em bom estado.

Embrulhar o pé das bananas em papel de alumínio ou película aderente. Se não estiver exposto ao ar, as bananas demorarão mais tempo a amadurecer. Se percebermos que não vamos consumir todas em tempo útil, uma boa medida é descascá-las, cortá-las às rodelas e congelá-las para aproveitar mais tarde: num batido, num bolo ou em barras energéticas.

Servir menos comida. Criar o hábito de cada pessoa servir o seu prato, com pouca quantidade de cada vez. É preferível repetir do que deixar de lado.

Descobrir formas de aproveitar todas as partes dos vegetais. As cascas da batata, por exemplo, fazem um ótimo snack, fritas e temperadas com sal e pimenta.

Aproveitar frutas e legumes feios ou em fim de vida. Os legumes mais antigos podem ser aproveitados para a base de uma sopa, ou num caldo que poderá ser usado noutros pratos: por exemplo num risoto. Tal como a fruta demasiado madura pode ser aproveitada para juntar ao iogurte da manhã ou num sumo ou batido.

Aprender a “ler” a validade dos alimentos. “Consumir até” é diferente de “Consumir de preferência antes de”. O primeiro é uma indicação que está diretamente relacionada com a segurança. Não consumir depois da data indicada é uma regra que deve ser respeitada, pois aplica-se a alimentos microbiologicamente perecíveis. Por exemplo, carne e peixe frescos.

Já a indicação “Consumir de preferência antes de” permite maior flexibilidade. Refere-se à qualidade dos alimentos e não à segurança. Ou seja, o alimento pode ser consumido depois dessa data, desde que tenha boa aparência e cheiro, mas pode ter perdido algumas propriedades de sabor ou textura. É o caso de bolachas, massas ou cereais de pequeno-almoço.

Há ainda outra indicação, para alimentos com uma longevidade maior: “Consumir de preferência antes do fim de”. É uma indicação de mês e ano que corresponde à durabilidade mínima expectável do produto, mantendo as características iniciais. Por exemplo, conservas e congelados.

Se a perda e o desperdício de alimentos fossem um país, seriam o terceiro maior emissor do mundo de gases com efeito de estufa.