Reduzir a pegada de carbono

20 de Janeiro 2020

A ideia de viver de forma mais sustentável agrada-lhe, mas não sabe como começar? Inspire-se nas nossas resoluções para 2020 e comece agora mesmo a trabalhar para diminuir a sua pegada de carbono ao longo do ano.

A pegada de carbono é definida como o total de emissões causadas por um indivíduo, evento, organização ou produto, e é expressa em toneladas de CO2 ou CO2 equivalente (um conceito que surgiu para representar todos os gases de efeito estufa numa única unidade) por ano. Inclui, assim, também as emissões de outros gases de efeito estufa, como metano, óxido nitroso ou clorofluorcarbonos (CFCs). Nas últimas décadas, a pegada de carbono da humanidade tem vindo a crescer e é, hoje, a principal causa das alterações climáticas.

Em termos individuais, quanto menos CO2 produzirmos com as nossas ações e as nossas escolhas, menor é a nossa pegada de carbono. E quanto menor for a nossa pegada de carbono, maior é o passo que damos no sentido de conter as alterações climáticas, porque elas são, também, o resultado da soma de biliões de decisões individuais que todos nós tomamos, todos os dias. Veja as dicas seguintes e adote as que conseguir, porque qualquer passo no sentido da sustentabilidade, por mais pequeno que seja, é um passo na direção certa. Vamos a isso?

Desafie-se!

Calcule a sua pegada de carbono e estabeleça uma meta de redução. É mais fácil esforçar-se com um objetivo em mente, e isso também lhe permite ir acompanhando o progresso.

Existem várias calculadoras online da pegada de carbono. Visite, por exemplo, o site das Nações Unidas www.offset.climateneutralnow.org, ou o  www.carbonfootprint.com. Se preferir em português, vá a www.pegadaecologica.org.br, do WWF Brasil.

Reduza o uso de plástico descartável

O problema do plástico no mundo é grande. Um estudo da Seas at Risk, publicado em outubro de 2017, dava conta de que, na Europa dos 28, são consumidos, por ano, 46 mil milhões de garrafas de plástico, 16 mil milhões de copos de plástico e 36,4 mil milhões de palhinhas. À escala, Portugal não está muito melhor, com um consumo anual de 721 milhões de garrafas de plástico, 259 milhões de copos de café descartáveis e mil milhões de palhinhas. Como apenas uma fração é reciclado, a maioria de todo este plástico termina em aterros, praias, rios, oceanos, e contribui para uma infinidade de problemas ambientais.

Comece por dizer não aos sacos de plástico. Invista em alguns sacos reutilizáveis e use-os nas suas compras. Muitas lojas também já disponibilizam sacos de papel para as mercearias; em alguns casos podem ser ligeiramente mais caros do que os homólogos de plástico, mas o impacto no ambiente vale bem a diferença: o papel é um produto sustentável, reciclável e biodegradável.

Evite a água engarrafada em garrafas de plástico. Há um custo ambiental por detrás da produção das garrafas de plástico descartáveis, que inclui o consumo de petróleo e água. Sabia, por exemplo, que são precisos três litros de água para fabricar uma garrafa que depois vai levar um litro de água?

O mesmo é válido para as palhinhas de plástico, copos, pratos, talheres e embalagens de descartáveis estilo take-away.

Pense no que come

Da próxima vez que for ao supermercado ou à mercearia, tente abastecer-se apenas de produtos que sejam da estação. É bom para a carteira (os produtos que estão no pico da oferta têm um preço mais baixo), sabe melhor e é melhor para a saúde. E, claro, estes produtos têm um custo ambiental de envio e transporte muito inferior.

Embora esta questão da alimentação seja complicada, e as pesquisas sobre qual a dieta mais ecológica ainda estejam em evolução, os especialistas concordam que reduzir a carne, principalmente a carne vermelha, é a melhor escolha para o ambiente. A produção de carne vermelha usa muita ração, água e terrenos. E, além disso, as vacas emitem grandes quantidades de metano, um gás de efeito de estufa nocivo. A FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) refere que “o setor pecuário contribui com 14,5% das emissões de gases de efeito de estufa induzidas pelo homem e é um grande utilizador de recursos naturais” e que “desempenha um papel importante nas mudanças climáticas, na gestão da terra e da água e na biodiversidade”.

Plante árvores

De acordo com dados da organização internacional Carbon Fund (www.carbonfund.org), a desflorestação é responsável por cerca de 11% das alterações climáticas. Por isso, proteger as florestas é uma missão crítica. Plantar árvores absorve dióxido de carbono, melhora a qualidade do ar e do solo, preserva a biodiversidade, melhora os habitats e cria empregos.

Segundo dados do Eurostat, as florestas portuguesas absorvem mais de 10% das emissões de gases de efeito de estufa.

Mais “à escala”, quer viva numa casa ou num apartamento, plantar algo é uma forma eficaz de reduzir a sua pegada de carbono. Plante árvores, se tiver espaço, ou uma horta, ou apenas algumas plantas e flores amigas das abelhas. Os jardins de varanda ou os canteiros de janela são ótimos para residências urbanas.

Repense os meios de transporte

Sempre que possível, devemos evitar as viagens de avião. Segundo o WWF (World Wide Fund for Nature), um avião numa única viagem da Europa ao Brasil liberta uma quantidade de carbono na atmosfera que equivale à que um carro, percorrendo 30 km por dia, produziria em mais de dois anos.

Os gases emitidos pelos motores de combustão dos automóveis também estão no topo das preocupações. Um transporte sustentável tem de utilizar a energia de maneira eficaz, isto é, transportar o máximo de carga possível gastando o mínimo de combustível. Por isso, o ideal é que, sempre que andarmos de carro, não o façamos sozinhos. Melhor ainda é conseguirmos não utilizar o carro, deslocando-nos de transportes públicos, de bicicleta e a pé. Não utilizar o carro durante um ano faz com que poupemos 2,6 toneladas de CO2, segundo um estudo de 2017 dos investigadores Seth Wynes e Kimberly Nichols, da Lund University e da University of British Columbia, intitulado “The climate mitigation gap: education and government recommendations miss the most effective individual actions”.

Mas, sejamos realistas, o mais provável é que vá precisar de utilizar o carro este ano. Deixamos-lhe algumas dicas para que, quando o fizer, a sua deslocação seja o mais ecológica possível:

  • Modere o uso do acelerador e do travão – a condução eficiente ajuda a reduzir emissões. Brian West, especialista em investigação de combustíveis e motores do Laboratório Nacional de Oak Ridge, nos Estados Unidos, recomenda que conduza “como se tivesse um ovo debaixo do pé”.
  • Mantenha a revisão do seu carro em dia, para que funcione de forma eficiente.
  • Verifique a pressão dos pneus – a pressão errada prejudica a economia de combustível, aumentando as emissões.
  • A utilização do ar condicionado também tem influência no consumo de combustível, pelo que reduza o seu uso sempre que possível.
  • Utilize o cruise control em viagens longas – reduz a utilização do acelerador e do travão, aumentando a eficiência.
  • Combine boleias com os colegas de trabalho ou os pais dos colegas de escola dos seus filhos – desta forma, as emissões dividem-se pelo número de pessoas no carro.

Reduza o uso de produtos químicos

Muitos dos produtos de limpeza que temos nas nossas casas contêm uma série de químicos misteriosos e perigosos, que não só são maus para a nossa saúde, mas também para o ambiente. Comece o ano com uma “limpeza” aos armários, para eliminar os produtos cheios de químicos e substituí-los por alternativas mais ecológicas.

O mesmo princípio é válido para os produtos de higiene pessoal e os cosméticos, que também estão cheios de químicos tóxicos. Quando comprar produtos de cuidado pessoal, para usar no corpo ou cara, escolha marcas naturais – e, já que este é o ano de fazer as escolhas mais corretas, opte também por marcas não testadas em animais.

Poupe energia

Aquecimento, luzes e eletrodomésticos/aparelhos eletrónicos. Estas são as áreas da nossa casa nas quais consumimos mais energia. E a produção de energia contribui bastante para a nossa pegada de carbono. Assim, toca a poupar:

  • Use um termóstato programável para que o aquecimento se ligue nas horas em que faz sentido: antes de regressarmos a casa, ao final do dia, e um pouco antes de nos levantarmos, de manhã.  Se passa muito tempo numa das divisões da casa, a opção por um aquecedor de ambiente, em vez do aquecimento central, também é boa.
  • Apague as luzes das divisões onde não está e desligue da tomada os eletrodomésticos (os possíveis) e aparelhos eletrónicos que não está a usar. Colocá-los em modo stand-by/off é melhor que nada, mas continuam a gastar energia.
  • Compre um portátil em vez de um computador de secretária: gastam menos energia para carregar e funcionar.
  • Troque as lâmpadas incandescentes por LED. Não só duram mais, como gastam muito menos energia.
  • Substitua eletrodomésticos muito antigos por outros mais eficientes em termos energéticos. A médio prazo, o dinheiro que vai gastar compensa na fatura da energia e na do ambiente.

Adote o minimalismo

Não se assuste. Minimalismo é só uma maneira elegante de dizer que faz compras conscientemente, não adquirindo mais do que precisa. Portanto, comprar menos é o primeiro passo, mas há outras formas simples de reduzir o impacto das nossas compras.

A “fast fashion” (“moda rápida”, roupas que são produzidas rapidamente, de forma barata e pouco sustentável) é um dos temas do momento nos nossos padrões de consumo. De acordo com o World Resources Institute, são fabricadas, todos os anos, cerca de 20 peças de roupa por pessoa. E, à medida que os preços descem, os impactos ambientais e humanos sobem.

Para nos vestirmos de forma minimamente sustentável, há algumas perguntas que nos devemos fazer na hora de comprar: Preciso realmente disto? Quantas vezes vou vestir esta peça? Quanto tempo vai durar? Decidida a necessidade da compra, o ideal é optar por marcas de comércio justo e sustentável. E escolher bem o tecido, uma vez que diferentes materiais têm diferentes pegadas de carbono. Por exemplo, as fibras sintéticas, como o poliéster, têm um impacto menor na água e nos terrenos do que os materiais que são cultivados, como o algodão, mas emitem mais gases de efeito de estufa por quilo. Dados do World Resources Institute indicam que uma camisola de poliéster tem mais do dobro da pegada de carbono que uma camisola de algodão.

Uma outra opção sustentável é… vestir celulose. O lyocell, por exemplo, é um tecido feito a partir de polpa de madeira dissolvida, proveniente de florestas sustentáveis de eucalipto, carvalho e bétula. É uma resposta da indústria têxtil à necessidade de produzir tecidos amigos do ambiente.

Exerça os seus direitos

Para além de alterar alguns dos seus hábitos quotidianos, exercer os seus direitos enquanto cidadão é uma das coisas mais importantes que pode fazer pelo planeta.

Ter as alterações climáticas e o ambiente em consideração nas suas escolhas é um bom princípio. Mas também pode juntar-se a grupos de ação na área onde vive, mantendo-se informado sobre como pode ajudar a sua comunidade. E falar com os seus representantes locais, em reuniões abertas aos cidadãos, dando sugestões de melhorias para reduzir a pegada de carbono da sua freguesia ou do seu bairro.

Compense o que não consegue evitar

Viver o dia-a-dia sem pegada de carbono é impossível. Devemos esforçar-nos para mudar atitudes e comportamentos, no sentido de reduzirmos o máximo que conseguirmos, e, sempre que nos for possível, do ponto de vista financeiro, podemos ainda compensar as emissões que não conseguimos evitar. Esta compensação de carbono significa que podemos doar dinheiro a um projeto que reduza os gases de efeito de estufa.

Certifique-se de que escolhe projetos fidedignos e imparciais. Uma forma de ter a certeza é selecionar na plataforma de compensação de carbono da ONU (United Nations Carbon Offset Platform, em www.offset.climateneutralnow.org).

Se a ideia de viver de forma mais sustentável lhe agrada, mas não sabe como começar, consulte as nossas propostas na edição de Janeiro da revista #MYPLANET.

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