S.O.S. aves migratórias

6 de Outubro 2023

A grande maioria das aves migratórias depende de ecossistemas aquáticos para concluir com sucesso as suas longas viagens. A campanha de 2023 do Dia Mundial das Aves Migratórias destaca precisamente a importância da água para a preservação destas espécies.

Atravessam os céus duas vezes por ano em longuíssimas viagens que põem à prova as suas forças. Umas percorrem quase todo o planeta, outras são mais modestas nas suas deslocações. Seja como for, durante cada uma dessas epopeias, enfrentam obstáculos terríveis: tempestades, cadeias montanhosas, oceanos e desertos inóspitos. São as aves migratórias que, em bando, se deslocam em todas as direções à procura de alimento e de um clima mais ameno.

A grande maioria destas aves depende de ecossistemas aquáticos para chegar ao seu destino e, consequentemente, para sobreviver. Lagos, pântanos, rios, estuários e outras zonas húmidas fornecem alimentação e hidratação, mas são também locais de descanso nas suas longas jornadas.

A degradação destes ecossistemas constitui, por isso, uma ameaça à preservação das espécies migradoras. Entre os fatores que estão por trás desta degradação encontram-se a procura humana por água, a crescente poluição dos meios aquáticos, bem como as alterações climáticas, que têm impacto direto na disponibilidade de água potável.

Os dados mais recentes do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente revelam que 48% das espécies de aves no mundo registam declínios populacionais e, por outro lado, cerca de 35% das zonas húmidas do planeta, essenciais para a sobrevivência das aves migratórias, foram devastadas nos últimos 50 anos.

Flamingos

Aves migratórias que invernam em Portugal

Portugal está na rota de inúmeras espécies migradoras. Para muitas delas – como o papa-moscas-preto (Ficedula hypoleuca), o cartaxo-nortenho (Saxicola rubetra) ou o papa-amoras (Sylvia communis), o nosso país é apenas um ponto de passagem rumo às terras quentes de África. Aqui fazem uma paragem para recuperar forças. Para outras, é o destino da sua viagem.

As aves que chegam no outono e ficam até ao fim do inverno procuram, geralmente, as zonas húmidas, como estuários, lagoas e rias. É o caso dos populares flamingos (Phoenicopterus roseus) e dos maçaricos-de-bico-direito (Limosa limosa), que encontram nesses ecossistemas o abrigo e o alimento de que necessitam para passar os meses mais frios.

Mas há também outras espécies, como a estrelinha-de-poupa (Regulus regulus), o gavião fura-bardos (Accipiter nisus) e a codorniz-comum (Coturnix coturnix), que escolhem as florestas portuguesas como habitat de inverno.

Em qualquer dos casos, as aves chegam em bando e exaustas. Ao longo da exigente jornada de milhares de quilómetros que empreenderam, foram expostas a ameaças, frequentemente causadas diretamente por atividades humanas, mas também pelas alterações climáticas. O aumento da temperatura global, o degelo e a perda de habitats têm vindo a alterar os padrões dos fluxos migratórios e constituem desafios acrescidos para milhares de espécies que não estão preparadas para as mudanças nas condições encontradas ao longo da “viagem”.

“Água: vital para as aves”

O Dia Mundial das Aves Migratórias é uma campanha anual de sensibilização que destaca a necessidade de conservação destas aves e dos seus habitats, ao mesmo tempo que alerta para as ameaças que estas espécies enfrentam. O tema de 2023 – “Água: vital para as aves” – alerta para a importância da preservação dos ecossistemas aquáticos e das zonas húmidas, essenciais para a sobrevivência das aves. É nestes ecossistemas que encontram alimento e um poiso para descansar durante as suas longas deslocações.

De carácter global, a campanha pretende colocar em perspetiva “a casa que é de todos”, lançando desafios para a necessidade urgente de proteger os recursos hídricos e de optar por políticas de sustentabilidade que contribuam para a manutenção destes ecossistemas e dos seus habitantes. O Dia Mundial das Aves Migratórias é organizado pela Convenção sobre a Conservação de Espécies Migratórias de Animais Selvagens, em conjunto com outras organizações internacionais, e à semelhança dos ciclos migratórios das aves, assinala-se anualmente em duas datas: nos segundos sábados dos meses de maio e de outubro.