Com uma gestão florestal responsável, as florestas plantadas asseguram serviços de ecossistema essenciais. Além disso, permitem a proteção dos valores naturais do planeta, como explica Sérgio Fabres, Diretor de Investigação e Consultoria Florestal no instituto RAIZ.
O solo e a água são recursos determinantes para o crescimento das plantas e a produção vegetal, mas também para a realização de outras funções ecológicas fundamentais (ou serviços do ecossistema). Estes serviços, proporcionados tanto por florestas naturais como plantadas aos seres vivos, animais e vegetais, incluem, por exemplo, a biodiversidade existente no solo e acima dele, o sequestro e o armazenamento de carbono e a produção de água para as populações humanas.
No sentido agronómico e/ou florestal, o solo é a camada mais superficial da crosta terrestre, constituído por material não consolidado de natureza inorgânica e orgânica, e ainda por organismos vivos (biota do solo). Numa perspetiva funcional, é o principal suporte utilizado pelas plantas para o seu crescimento, desenvolvimento e disseminação, proporcionando-lhes água, nutrientes e arejamento radicular. Sustenta, ainda, várias outras funções ecológicas, que abordarei mais adiante.
As árvores utilizam a água do solo para a sua sobrevivência e crescimento. Essa água é absorvida pelas raízes e transportada via sistema vascular para as copas, sendo que mais de 95% é libertada para a atmosfera através da transpiração. Esta água usada na transpiração está, por isso, associada à fotossíntese – a transpiração é o custo da fotossíntese: maiores taxas de transpiração podem potenciar maiores produções de biomassa e, consequentemente, maiores taxas de sequestro de carbono. Este processo faz parte do ciclo hidrológico.
A biodiversidade refere-se, de forma simplificada, à variedade biológica ou diversidade de espécies num determinado local e período. A criação de mosaicos florestais, combinando áreas de plantações de eucalipto com áreas de conservação, integrando espécies autóctones, florestais ou não, e zonas de uso agrícola, permite evitar espaços contínuos extensos ocupados pela mesma espécie, trazendo benefícios claros para a biodiversidade, pela diversidade de espécies e habitats. Além disso, esse mosaico evita a continuidade de acumulação de combustíveis.
As florestas plantadas bem geridas podem exercer um papel semelhante ao das florestas naturais na proteção do solo, na infiltração e retenção da água e na promoção e manutenção da biodiversidade. Uma gestão florestal cuidada e responsável, com práticas silvícolas ajustadas a cada condição de solo e clima, uma floresta com estrutura mais complexa, integrando floresta de produção e floresta de conservação, e o mosaico na paisagem são aspetos fundamentais para garantir maior diversidade de espécies de plantas e animais. Esse modelo de gestão contribui para uma floresta mais resiliente às alterações climáticas e para uma maior sustentabilidade das plantações nas vertentes ecológica, económica e social.
Adicionalmente, as florestas plantadas providenciam outros serviços do ecossistema, como os de provisão, que correspondem aos bens, matérias-primas ou produtos daí provenientes. Assim, as florestas plantadas contribuem para reduzir a pressão da extração de matérias-primas de florestas naturais, permitindo que estas sejam conservadas como refúgios de biodiversidade. As florestas de produção ou plantações florestais permitem assegurar a disponibilidade de matérias-primas renováveis procuradas pela bioeconomia, sem comprometer os valores naturais do planeta.
Por Sérgio Fabres
Diretor de Investigação e Consultoria Florestal no RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel