Sou muito fofo… não me toquem

14 de Dezembro 2021

Têm focinhos adoráveis, pequenas patinhas e uma barriga fofa. Os ouriços-cacheiros são amorosos até se sentirem ameaçados, depois podem ser um caso bicudo.

É um pequeno mamífero facilmente identificável, já que é o único em Portugal que tem o corpo coberto de pelos que a evolução modificou para serem maiores e mais rijos. Os ouriços-cacheiros (Erinaceus europaeus) são animais de atividade noturna ou crepuscular, e alguns hibernam na época mais fria, pelo que é menos provável vê-los durante o inverno que agora começa. Mas se tiver a sorte de se cruzar com eles, saiba que há diversas formas de ajudar estes animais.

O facto de se deslocar com o apoio total da planta das patas no solo dá-lhe um andar engraçado e bamboleante, mas só consegue percorrer entre 90 e 200 metros… por hora, o que o coloca em risco em várias situações. A atravessar uma estrada, por exemplo. Se detetar algum, pode salvar-lhe a vida se o retirar da via. Não é preciso dizer para não o fazer com as mãos despidas, pois não?…

Como prospera em diferentes habitats, desde matos a florestas, mas também pomares, campos agrícolas e parques urbanos, se tiver algum a rondar o seu jardim – são animais solitários – e a fazer-lhe o favor de controlar a população de insetos, de pequenos roedores, de serpentes e lagartos, também aí o pode proteger dos perigos. O uso de pesticidas é um deles, a máquina de cortar-relva é outro, e os predadores domésticos, como o cão, mais um. Há que redobrar cuidados sobretudo na época de reprodução, entre os meses de abril e setembro, quando há crias – nascem de olhos fechados e sem pelo, portanto, sem os 5000 a 6000 espinhos que os adultos têm, em média.

Não tem um cão ou gato a viver consigo e descobriu um fofo ouriço-cacheiro a viver no seu jardim, pelo que está a pensar levá-lo para dentro de casa? Não faça isso. Dada a sua importância para os ecossistemas, embora a espécie não esteja ameaçada (em Portugal o seu estatuto de conservação é “Pouco Preocupante”), encontra-se protegida no anexo III da Convenção de Berna, não sendo permitida a sua posse como animal doméstico. No entanto, pode ajudá-los a ter uma vida mais confortável na natureza, agora que o inverno está ao virar da esquina – ajudando-os a hibernar.

Como ajudar os ouriços-cacheiros a hibernar?
Em Portugal, só os ouriços-cacheiros que vivem em zonas de maior altitude é que hibernam. E o fenómeno acontece porque são animais homeotermos (com temperatura corporal constante) que, face à escassez de alimento e ao frio, não conseguem manter a temperatura do corpo. Ficam frios ao toque e imóveis, a respiração diminui para uma a 10 vezes por minuto e o ritmo cardíaco de 190 para 20 batimentos por minuto, tudo para poupar energia.

Assim, no final do outono, estes animais começam a procurar um local seguro e protegido do frio. Se encontrar um monte de folhas num canto do seu jardim no final do ano, deve deixá-lo onde está até à primavera, porque pode ter um ouriço-cacheiro lá a viver. Se quiser ajudar estes animais a encontrar um abrigo, pode empilhar uns troncos partidos e paus, e amontoar folhas ou restos de relva. Se quiser ir mais longe, pode mesmo construir uma caixa de madeira ou usar uma gaveta velha.

Outra forma de ajudar é alimentá-los durante o outono, quando estão a formar a camada de gordura que os vai manter nutridos durante a hibernação. Cuidados a ter: disponibilizar apenas pequenas quantidades de alimento, para não perderem o natural instinto de caça e não se distraírem do processo de hibernação. Pode dar-lhes pequenos insetos, legumes e bagas, ou uma ração própria que se vende em lojas especializadas; nunca lhes dê leite nem restos de comidas, que podem fazer-lhe muito mal.