Tesouros culturais protegidos pela floresta

8 de Julho 2024

A gestão responsável das florestas plantadas cria valor económico, social e ambiental. Mas também promove a identificação e a preservação de bens culturais, sejam achados arqueológicos ou mesmo património imaterial.

Nos cerca de 108 mil hectares de área gerida em Portugal pela The Navigator Company, mentora do projeto My Planet, encontram-se mais ou menos escondidos, mas bem identificados, 291 bens culturais. Todos eles são alvo de medidas de proteção ativa, incluídas na Gestão Florestal Responsável que o Grupo Navigator põe em prática todos os dias. Este é um trabalho que está presente desde há décadas, mas ao qual tem sido dada uma atenção crescente nos últimos anos.

A catalogação destes valores culturais, que são sobretudo bens imóveis do património arquitetónico ou arqueológico do País, alguns deles classificados pelas entidades públicas competentes, foi alvo de um minucioso trabalho de atualização, uniformização e valorização ao longo de 2023. Um trabalho crucial, pois é esta inventariação que permite à Direção de Gestão Florestal ter em conta, em cada projeto ou operação, a proteção dos valores culturais identificados, estejam ou não classificados.

Todas as operações florestais são planeadas de modo a não afetar, de nenhuma forma, a conservação destes bens. A delimitação de uma faixa, em seu redor, onde não ocorre qualquer mobilização do solo é uma das medidas adotadas. Além disso, os trabalhos de arborização e rearborização podem incluir o acompanhamento de um arqueólogo certificado e, sempre que se justifique, são adotadas medidas de proteção mais específicas, resultantes de sugestões ou orientações dadas por especialistas.

Um importante exemplo deste património cultural protegido pela gestão florestal responsável da Navigator é o Povoado Fortificado de Cossourado (na foto de abertura). Trata-se de um castro da Idade do Ferro localizado nos concelhos de Paredes de Coura e Vila Nova de Cerveira. Está classificado como Monumento Nacional desde 2021, pela Direção-Geral do Património Cultural (desde o início do ano com funções repartidas entre a Património Cultural, I.P., e Museus e Monumentos de Portugal).

Grupo de adolescentes em trabalho de campo arqueológico na Póvoa de Lanhoso, numa propriedade da The Navigator Company.

“Arqueologia pública” na preservação de um património que é de todos

A área total sujeita a prospeção arqueológica já supera os 4.000 hectares desde 2013. Gabriel Pereira, um dos arqueólogos que têm realizado estes trabalhos de prospeção a pedido da Navigator, considera que a Companhia é, nestas matérias “uma entidade bastante cautelosa”: “Tem tido uma conduta muito conscienciosa, seja em situações em que a própria empresa sinaliza algum elemento que possa ser indicador da existência de valores na área, seja nos casos em que já existem condicionantes identificadas pelas entidades públicas.”

Desde 2006, o arqueólogo presta consultoria à empresa nos seus projetos, sobretudo no norte e centro do país. E são já vários os “achados” encontrados no âmbito destes trabalhos. “Recordo, por exemplo, um monumento megalítico identificado numa propriedade na Póvoa de Lanhoso, em 2017, numa fase preliminar da florestação. A Navigator assumiu trabalhos de valorização e de limpeza para que o monumento, com mais de três mil anos, ficasse acessível, identificado e valorizado”, conta. Este caso foi especialmente interessante, na opinião de Gabriel Pereira, pelo envolvimento da comunidade local: “A empresa empenhou-se muito na salvaguarda do monumento e tornou possível fazer aquilo a que chamamos uma arqueologia pública. Um grupo de jovens adolescentes participou num trabalho de campo durante algumas semanas, para a valorização do achado.”

A proteção do património cultural é uma responsabilidade de todos, considera Gabriel Pereira, e, por isso, a possibilidade deste envolvimento é sempre desejável: “Porque é uma oportunidade excecional para ações de educação patrimonial, num trabalho de simbiose para que o sítio arqueológico seja preservado.”

Formações rochosas que deram o nome à Serra de Pias e estão na origem de uma romaria e de uma lenda que fazem parte do Património Imaterial da região.

A lenda da Serra de Pias e o respeito pelo património imaterial

Nos valores culturais inclui-se o património imaterial, que assume, com frequência, tanto ou mais valor para as comunidades, como um achado arqueológico de reconhecida relevância. A Navigator é igualmente sensível à importância da sua preservação. E, por isso, considerou como de “Alto Valor para a Conservação” uma área na Serra de Pias, no concelho de Paredes, distrito do Porto, que é muito especial para a população. Inserido numa propriedade gerida pela empresa, o local, que deu o nome à Serra de Pias – devido às formações rochosas em forma de concavidades, onde se acumula a água da chuva –, está na origem de uma lenda transmitida ao longo de gerações.

Segundo pode ler-se no site do Parque das Serras do Porto, ao qual pertence a Serra de Pias, o registo desta lenda remonta ao século XVIII. Em períodos de falta de chuva, os habitantes da região deslocavam-se em procissão até aquele lugar. Aí secavam a “pia” com panos de linho e proferiam determinadas preces. Quando regressavam, reza a lenda, faziam-no já debaixo de chuva. “Diz-se que ali a água nunca acaba”, conta Fernando Santos, presidente da Junta de Freguesia de Aguiar de Sousa. “Os mais velhos ainda se lembram das romarias para pedir chuva. O local faz parte do património da Freguesia e do Parque das Serras do Porto, e é importante que esteja acessível. Desde a antiga Portucel, que os caminhos estão sempre limpos”.

Apesar de já não haver, que se saiba, quem rume ao local das “pias” para pedir chuva, a lenda faz parte das tradições da terra e o local continua a ser visitado. “Há cerca de 10 anos, colocaram lá uma santa, mas não é ela que torna o sítio especial. As romarias são bem mais antigas. Ultimamente, também ganhou muitos visitantes porque por ali passam trilhos pedestres”, conta Fernando Santos. Ao classificar o local como de “Alto Valor para a Conservação”, a Navigator assegura que todos os acessos são mantidos em boas condições, respeitando assim o valor que a comunidade atribui e este local.

Outro exemplo que vale a pena conhecer e ao qual a My Planet já dedicou um artigo: os vestígios arqueológicos com três mil anos, protegidos pela Navigator, numa propriedade na Serra d’Ossa, Alto Alentejo.

Todas as operações florestais são planeadas de modo a não afetar a conservação dos bens culturais identificados. A delimitação de uma faixa, em seu redor, onde não ocorre qualquer mobilização do solo é uma das medidas adotadas.