A capacidade natural de adaptação do eucalipto, bem como o esforço realizado no seu desenvolvimento genético e na inovação da silvicultura e da indústria, criam condições para a promoção de uma floresta com uma capacidade acrescida de sequestro de carbono e uma fileira mais eficiente na utilização de recursos.
As alterações do clima são bem percetíveis na frequência com que ocorrem fenómenos climáticos extremos, na redução dos valores anuais de precipitação, no aumento das temperaturas, entre outros aspetos. O que se traduz num acréscimo de situações de risco nos territórios rurais, como os incêndios, e em stresse nos povoamentos florestais, causado por falta de água, pragas e doenças. Poderá o eucalipto desempenhar um papel de destaque nas estratégias de adaptação climática para fomentar a resiliência da floresta?
Perante este cenário e as incertezas relativas ao futuro socioeconómico da floresta, a fileira do eucalipto promove o investimento em projetos de inovação e desenvolvimento, que comprovam que a espécie tem uma elevada capacidade de adaptação a diferentes condições de clima e de solo. Os estudos de melhoramento genético e de inovação tecnológica em práticas silvícolas adaptativas têm tido o objetivo de aumentar a resistência das plantas e a sua produtividade, bem como potenciar estratégias de retenção de água e matéria orgânica no solo.
A ação da indústria de base florestal assume, assim, um papel fundamental na mitigação das alterações climáticas. Porque, num país como Portugal, onde 97% da floresta é privada e comunitária, apenas com uma floresta produtiva rentável é possível ter disponibilidade financeira para investir também no restauro de áreas de conservação e na recuperação de espécies autóctones. E também porque a floresta de produção contribui para o sequestro de carbono, que reduz as consequências dos gases de efeito de estufa no aquecimento global; e para a proteção do solo e dos recursos hídricos. As florestas são de uso múltiplo, não há florestas que só realizem uma função.
Por outro lado, só plantando e replantando florestas especificamente destinada a produzir as matérias-primas necessárias às crescentes atividades humanas é que é possível evitar que as florestas naturais sejam destruídas para esse efeito. As florestas plantadas estão também na base do desenvolvimento de bioprodutos de origem natural, recicláveis, compostáveis e biodegradáveis, que contribuem para a descarbonização e para uma economia circular, diminuindo a dependência de matérias-primas de origem fóssil. Em todas estas vertentes, o eucalipto apresenta vantagens em relação a outras espécies florestais.
O papel do eucalipto
O eucalipto mais comum em Portugal – Eucalyptus globulus –, natural da Tasmânia e da Austrália, prospera, na sua região de origem, numa gama relativamente ampla de situações climáticas e geográficas, sendo uma das espécies de eucalipto com maior distribuição nativa.
No nosso país, encontrou também condições edafoclimáticas ideais para se desenvolver. As plantações desta espécie cobrem sensivelmente 8.500 quilómetros quadrados, o equivalente a cerca de 9% do país – 26% da área florestal, segundo o ICNF –, maioritariamente no centro e noroeste de Portugal, mas também no Vale do Tejo e no Sul.
Em diversos estudos, o globulus tem mostrado uma notável capacidade de adaptação e flexibilidade no que diz respeito ao solo e, principalmente, ao clima, o que influencia o impacto das alterações climáticas na espécie em Portugal. Em zonas onde, eventualmente, outras espécies não sobreviverão às alterações climáticas, será possível manter uma cobertura florestal graças ao eucalipto, com todos os benefícios económicos e socioeconómicos que daí advêm.
A floresta de produção em cenário de alterações climáticas tem, no entanto, um desafio adicional, que é a necessidade de assegurar uma produtividade que garanta a rentabilidade dos povoamentos. Perante a incerteza sobre os efeitos das mudanças, o eucalipto assume a este nível uma vantagem importante para os produtores e gestores florestais: as rotações de ciclo curto, de dez a 12 anos, ao contrário de outras árvores com ciclos temporais de longa duração, permitem mais facilmente assegurar o investimento.
Melhoramento genético e silvicultura inovadora
O programa de melhoramento genético da The Navigator Company, conduzido nas últimas décadas pelo RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, tem produzido sucessivas gerações de clones de E. globulus que dão garantias aos produtores, elevando a capacidade produtiva da espécie. No entanto, como o desenvolvimento de novos genótipos é moroso, demora 15 a 20 anos, existem também outras medidas que podem ser implementadas de forma mais rápida, como seja a adoção de práticas silvícolas alternativas, que contrariem os efeitos adversos das alterações climáticas.
Todo o conhecimento gerado e as inovações introduzidas na silvicultura do eucalipto são muito relevantes para a otimização da gestão e podem ser aplicados com sucesso a outras espécies florestais, contribuindo para uma floresta mais sustentável e mais adaptada a futuros cenários de alteração climática.