Um novo mundo de bioprodutos

28 de Junho 2024

Embalagens de celulose moldada e papéis com propriedades barreira fazem parte de uma nova geração de bioprodutos, de baixo impacto ambiental, que têm um superpoder: a substituição dos plásticos de uso único.

São alternativas aos produtos de origem fóssil e reúnem uma série de qualidades necessárias para fazer crescer e fortalecer a bioeconomia emergente. Ou seja, são renováveis, biodegradáveis e sustentáveis, e tornam-se imperativos num cenário de emergência climática e de sustentabilidade do planeta. Os novos bioprodutos que estão a nascer da floresta plantada de Eucalyptus globulus são apenas os primeiros. Este ecossistema constitui uma fonte inesgotável de respostas que podem ser processadas, de forma integrada, nas unidades industriais de produção de pasta e papel.

As respostas e soluções que podem nascer da floresta de eucalipto vão desde aditivos alimentares a biocompósitos, de biocombustíveis avançados à nanocelulose, substituindo materiais de origem fóssil em setores como embalagens, materiais de construção, têxteis, bioenergia, produtos farmacêuticos e componentes de automóveis.

Se Portugal está bem posicionado no contexto da transição para um novo paradigma económico, circular e de baixo carbono, assente em matérias-primas renováveis, a The Navigator Company, mentora do projeto My Planet, tem tido um papel relevante na liderança desta transição. A Companhia está a converter todo o potencial do eucalipto globulus, de forma a transformá-lo na base de uma nova geração de bioprodutos que é urgente produzir.

Fruto de um intenso trabalho de investigação científica desenvolvido nos últimos anos pelo RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel (Laboratório de I&D detido pela The Navigator Company, Universidade de Aveiro, Universidade de Coimbra e Universidade de Lisboa, através do Instituto Superior de Agronomia), os primeiros bioprodutos desta nova geração já se transformaram em novas áreas de negócio. Exemplo do que pode acontecer quando a indústria dá a mão à ciência.

Embalagens amigas do planeta

Em 2021, a Navigator lançou uma gama de papéis para embalagem, sob a marca gKRAFT – uma solução pioneira no mundo, ao utilizar a fibra virgem de eucalipto globulus para substituir os plásticos de uso único que dominam o mercado do packaging. Mas este foi só o primeiro passo de um caminho promissor que continua a ser uma aposta prioritária da Companhia.

O packaging tem sido a área mais desenvolvida no âmbito dos novos bioprodutos, muito pela urgência de encontrar alternativas para os plásticos de uso único, e de origem fóssil, que dominam este setor.

A sua substituição por materiais celulósicos neutros em carbono vai permitir uma redução das emissões de gases com efeito de estufa. Mas o seu impacto ambiental positivo passa também pelo facto de estas embalagens, com origem na floresta, terem um elevado nível de reciclabilidade e biodegradabilidade no fim de vida.

Estão em fase avançada de desenvolvimento produtos fibrosos para embalagem, explorando as características especificas das fibras de Eucalyptus globulus, em particular para o setor alimentar, nomeadamente produtos de celulose moldada e papéis de embalagem com propriedades barreira.

O desenvolvimento destes novos bioprodutos está a ser realizado através da Agenda From Fossil to Forest, aprovada no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que envolve um consórcio de 27 empresas, universidades e centros de investigação (incluindo o RAIZ), sob a liderança da The Navigator Company. Esta Agenda tem precisamente como objetivo desenvolver, patentear, produzir e comercializar soluções de embalagem inovadoras, feitas a partir de matéria-prima endógena, proveniente de florestas plantadas de Eucalyptus globulus geridas de forma sustentável.

Em 2021, a Navigator lançou uma gama de papéis para embalagem, sob a marca gKRAFT, para substituir os plásticos de uso único que dominam o mercado do packaging.

Celulose moldada para a área alimentar

A celulose, hoje reconhecida como um dos supermateriais do futuro, pode oferecer inúmeras respostas para a substituição das matérias-primas de origem fóssil. Em Aveiro, no Complexo Industrial da The Navigator Company, está a nascer uma nova linha de produção integrada de embalagens de celulose moldada para o setor alimentar. Terá uma capacidade inicial de 100 milhões de peças, estando prevista a possibilidade de se fazerem aumentos de capacidade nos próximos anos.

A nova gama, que terá o nome de Bioshield e fará parte da marca gKRAFT, arrancará com produtos para os setores de food service e food packaging. Recipientes para transporte de alimentos de takeaway, por exemplo, são uma das aplicações alvo. “Todos os artigos de celulose moldada terão propriedades barreira de acordo com a utilização final a que se destinam”, garante Ricardo Jorge, Diretor de Investigação e de Consultadoria Tecnológica do instituto RAIZ.

“A celulose moldada, para dar um exemplo que todos conhecemos, é o material de que são feitas as caixas para transporte de ovos”, explica o responsável. “Mas ao contrário destas, que são feitas a partir de reciclados, as embalagens que constituem a nova gama desenvolvida pela Navigator são produzidas a partir de fibra virgem de eucalipto, distinguindo-se pela sua aptidão e segurança para o contacto alimentar”, adianta.

“A nova unidade de produção da gama de celulose moldada da marca gKRAFT será a primeira a nível mundial a utilizar a fibra de eucalipto na produção deste tipo de artigos”, afirma Ricardo Jorge.

O transporte de alimentos de takeaway é uma das aplicações das embalagens de celulose moldada.

Novos papéis com propriedades barreira

Um próximo passo na área do packaging sustentável, que a Navigator está a criar através da Agenda From Fossil to Forest, é o desenvolvimento de papéis de embalagem com propriedades barreira, até final de 2025.

A ideia é dotar o papel de certas características que lhe permitam tornar-se adequado para substituir o plástico de origem fóssil enquanto matéria-prima para embalagens. Ou seja, é preciso que não absorva líquidos, óleos ou gordura dos alimentos, e que não permita a entrada de oxigénio ou humidade. O papel com propriedades barreira poderá substituir o plástico fóssil em embalagens que usam filme flexível para conter vários tipos de produtos alimentares – quer para serem vendidos no setor do retalho, quer para uso em takeaway.

A Navigator está a testar papéis com funcionalidades hidrofóbicas (repelentes de água).

Outros bioprodutos que estão a ser desenvolvidos pela The Navigator Company

👉Açúcares celulósicos e sua conversão em bioetanol para aplicação em biocombustíveis.

👉Biocompósitos de fibra celulósica e matrizes termoplásticas, com destaque para bioplásticos como o PLA, para aplicação em produtos plásticos injetados ou termoformados, filamentos e têxteis técnicos. Estas aplicações estão a ser testadas com potenciais end-users.

👉Óleos essenciais e produtos bioativos extraídos da folhagem e casca de eucalipto para aplicações diversas, como cosmética e saúde.