Há mais de 150 anos, o eucalipto encontrou em Portugal o terreno certo e o clima ideal para prosperar. Inicialmente apenas uma curiosidade ornamental em parques e jardins, a espécie rapidamente evoluiu para um dos pilares da floresta nacional.
O sucesso do Eucalyptus globulus em Portugal não se deveu ao acaso. A espécie encontrou no país as condições edafoclimáticas (relativas ao solo e ao clima) ideais para o seu crescimento, uma situação privilegiada no contexto mundial. Por exemplo, pode ser encontrado também no Noroeste de Espanha e no sul de Itália, mas o clima frio do Norte e Centro da Europa não permite a sua sobrevivência, pois é sensível a temperaturas baixas, geada ou neve.
Originário da Austrália, chegou a Portugal há mais de 150 anos, e rapidamente se integrou nas paisagens florestais do país. A sua capacidade de adaptação ao clima e solo portugueses, aliada ao seu rápido crescimento, tornou-o uma das espécies florestais mais importantes e debatidas no país.
Inicialmente, o eucalipto foi plantado com fins decorativos, em parques e jardins, mas a sua versatilidade rapidamente chamou a atenção dos proprietários privados e das autoridades. A espécie ganhou popularidade, sendo vista como uma solução para a arborização pela sua capacidade de crescimento, por ser fonte de madeira, lenha, carvão e outros produtos – a casca para curtimento de peles, as folhas com propriedades medicinais ou as flores para produzir mel.
Foi plantado em várias Matas Nacionais, ao longo de estradas (para as delimitar), em quintas e herdades como quebra-vento, e perto de estações e casas de guarda para produção comercial de travessas de caminho-de-ferro.
O eucalipto revelou-se também resistente a pragas e doenças, o que facilitou a sua disseminação. A sua capacidade de regeneração, através da rebentação das toiças, permite várias rotações de produção sem a necessidade de replantação constante. Este ciclo de produção rápido tornava-o uma excelente escolha para fins comerciais.
A facilidade de adaptação da espécie fez com que se tornasse uma presença constante em solo nacional.
Controvérsia e benefícios
Apesar das inegáveis vantagens do eucalipto, a sua introdução e expansão em Portugal não foram isentas de controvérsia. A partir da década de 1980, surgiram vozes de protesto que criticavam os impactos ambientais das grandes monoculturas de eucalipto, alertando para questões como a perda de biodiversidade, a degradação do solo e a elevada utilização de água.
A necessidade de resposta fundamentada a esta reação deu origem a inúmeros estudos científicos, tanto no sentido de perceber os impactos das plantações de eucalipto nos recursos naturais, como, por exemplo, de desenvolver práticas de silvicultura mais sustentáveis e promover o melhoramento genético das plantas. Ao longo dos anos, a investigação mostrou que, quando gerido de forma adequada, o eucalipto pode coabitar com outras espécies, sem comprometer os recursos naturais.
Uma das principais vantagens do eucalipto é o seu ritmo de crescimento. Em condições favoráveis, pode atingir mais de 30 metros de altura em pouco mais de uma década. A sua madeira foi usada em várias aplicações, desde a construção naval ao fabrico de móveis, passando pelos caminhos-de-ferro, como fonte de carvão vegetal para a indústria siderúrgica e até como fonte de óleos essenciais para as indústrias farmacêuticas, de perfumaria e cosmética.
No entanto, foi na produção de pasta para papel que a espécie revelou todo o seu potencial. A indústria papeleira encontrou nesta árvore uma matéria-prima de qualidade superior, com fibras curtas e resistentes, perfeitas para a produção de papéis de impressão e escrita, o que permitiu que Portugal se tornasse uma referência mundial na produção de papel de alta qualidade.
Este setor da pasta e papel, baseado no eucalipto, tem também sido fundamental na economia rural portuguesa, criando empregos e dinamizando comunidades em regiões muitas vezes desfavorecidas.
Embora o debate sobre os impactos do eucalipto continue, há cada vez mais investimentos em práticas de gestão sustentável. A combinação do conhecimento científico acumulado e o potencial económico faz desta espécie um dos pilares da silvicultura portuguesa, com um papel relevante na transição para uma bioeconomia mais sustentável e integrada.