Vantagens da escrita à mão

21 de Janeiro 2022

Da aprendizagem à criatividade, desenhar letras à mão, numa folha de papel, é ótimo para o cérebro.

JK. Rowling escreveu as 157 páginas de “Os Contos de Beedle, o Bardo” à mão, e o volume, posteriormente encadernado, foi vendido por quase quatro milhões de dólares em leilão. Stephen King, Hemingway, Kafka, e muitos outros, todos com acesso a uma máquina de escrever ou a um computador, dependendo da época, optaram por pegar num papel e numa caneta e ver onde isso os levava.

São muitos os escritores que atestam o valor de criar um primeiro rascunho manuscrito, e o processo subsequente de leitura e interação com a escrita, anotando, corrigindo, editando e reformulando-a como um todo. Digitar num ecrã cria a tentação de editar à medida que avançamos, fragmentando e dissecando, e, potencialmente, interferindo no fluxo orgânico de ideias.

Já o papel tem esse condão de nos transportar para lugares inesperados e mundos mágicos. E, no processo de colocar os caracteres na folha, com desenhos únicos da nossa mão, a escrita ganha a atenção plena do cérebro, estimulando a memória, a calma e a criatividade.

São vários os estudos que demonstram as vantagens de escrever à mão na aprendizagem. Num dos mais conhecidos, realizado por Pam A. Mueller, da Universidade de Princeton, e Daniel M. Oppenheimer, da Universidade da Califórnia, os investigadores focaram-se no processo dos alunos ao tirar notas, comparando os que o faziam no teclado e os que o faziam à mão, em papel. A conclusão está espelhada no título do trabalho: “The Pen Is Mightier Than the Keyboard”, ou seja, a caneta é mais poderosa que o teclado.

Antes, já vários investigadores tinham concluído que tomar notas num computador ou tablet era menos eficaz na aprendizagem do que tomar notas à mão. Mas estes estudos anteriores tinham-se focado, principalmente, na capacidade dos alunos para desempenhar várias tarefas ao mesmo tempo e na distração causada pelos computadores. A pesquisa de Mueller e Oppenheimer vai mais longe, e mostra que, mesmo quando os computadores são utilizados exclusivamente para tomar notas (sem as distrações associadas, como a internet, as redes sociais, o e-mail…), continuam a prejudicar a aprendizagem, porque o seu uso resulta num processamento mais superficial da informação. “Mostramos que, apesar de conseguir tirar mais notas poder ser benéfico, a tendência de quem faz apontamentos no computador para transcrever as aulas literalmente, em vez de processar a informação e reformulá-la nas suas próprias palavras, é prejudicial à aprendizagem”, concluem.

A caligrafia também se treina
Envolver o corpo na escrita também é benéfico. Desenhar letras no papel abarca várias experiências táteis, implicando os músculos motores finos dos dedos e da mão, os músculos maiores do braço, e os olhos. Por isso, aprender o alfabeto interagindo com cada letra de diferentes formas físicas, ajuda os alunos a “gravar” e reter o desenho e os sons das letras, facilitando a memória ao aprender a ler.

Escrever à mão é uma ferramenta poderosa, quer a escrita seja destinada aos olhos de outra pessoa ou não. Ainda assim, de pouco adianta rabiscar uma lista de compras, tirar notas numa reunião ou escrever uma ideia brilhante no guardanapo do restaurante onde estamos quando ela surge se ninguém conseguir ler a nossa caligrafia – nem nós próprios, muitas vezes. Por isso, toca a treinar! Trabalhar para melhorar a caligrafia significa também trabalhar para ser um melhor comunicador.

O tipo de caneta influencia a nossa caligrafia. Grossa ou fina, tanto na dimensão do próprio objeto como na espessura da ponta, faz toda a diferença. Experimente várias e verifique qual é que otimiza a sua escrita. A forma como se segura a caneta também é importante: tem de ser um movimento natural, sem esforço, mas, ao mesmo tempo, firme.

Escreva um ou dois parágrafos sobre qualquer coisa. Qual é o ângulo da sua letra? É desigual, ou segue um padrão? O que não gosta na sua letra? Como gostaria que ela fosse? Há algum “modelo” que queira espelhar? Feita esta análise, terá uma melhor noção de onde está e para onde quer ir, ficando com uma espécie de bússola para se empenhar e melhorar.

Na escola, aprendemos a escrever com o papel na vertical. Mas isso não funciona para toda a gente. Por exemplo, pessoas uma letra acentuadamente inclinada beneficiam se mudarem a posição do papel. Teste várias posições e veja a que combina melhor consigo.

Os parágrafos ficam mais bonitos e mais fáceis de ler se forem simétricos e alinhados. O espaçamento desempenha a mesma função de melhorar o visual da caligrafia e, consequentemente, a leitura. Tente manter um padrão de espaçamento entre as palavras: o ideal é que, entre elas, caiba a letra “o”. Também é importante que as letras de cada palavra não fiquem muito “encavalitadas” umas nas outras.

As maiúsculas devem ter o mesmo tamanho entre si, e as minúsculas também. É preciso treinar para chegar a um tamanho ideal e homogéneo, que não prejudique a leitura. Se a sua letra tiver tamanhos muito desiguais, treine em cadernos com linhas, que “balizam”.

Pode parecer uma contradição em termos, mas é isso mesmo que se quer na escrita em papel:  não se pode aplicar tanta força que se torne uma atividade fisicamente exaustiva, mas é preciso manter a caneta firme e deixar tinta suficiente em cada palavra. Acima de tudo, exerça força de forma constante, para não começar a frase com as palavras muito marcadas e terminar quase sem encostar a caneta no papel.

Para uma caligrafia bonita, o braço tem de estar apoiado corretamente, com os dedos que não estão a segurar na caneta a servirem de “suporte”. A maioria das pessoas utiliza os músculos do pulso e dos dedos para escrever, mas estes tendem a cansar-se com facilidade. Idealmente, os músculos do antebraço e do ombro é que devem fazer o trabalho pesado, com a mão a ser “apenas” o apoio para a caneta. Para perceber quais são estes músculos e como os treinar, escreva no ar, com uma caneta imaginária.