A surpreendente história da energia solar

2 de Maio 2025

Muito antes de sabermos que podíamos capturar a luz do Sol para alimentar as nossas casas, carros e até aviões, a humanidade já olhava para o céu em busca de respostas. Durante séculos, o Sol foi símbolo de poder, divindade e mistério – mas foi apenas no século XIX que se começou a compreender que, por detrás do seu brilho constante, escondia-se uma fonte de energia limpa, praticamente inesgotável.

A primeira faísca deste percurso deu-se em 1839, quando o jovem físico francês Edmond Becquerel, aos 19 anos, verificou que duas placas metálicas, mergulhadas num eletrólito, produziam uma ténue diferença de potencial quando expostas à luz – um fenómeno que mais tarde seria batizado de efeito fotovoltaico. Era uma curiosidade científica, sem aplicações práticas. E, apesar deste fenómeno misterioso ter ficado na penumbra durante décadas, a verdade é que abriu uma porta. Transformar energia em eletricidade era uma questão de tempo.

Décadas depois, em 1877, os norte-americanos W. G. Adams e R. E. Day deram o passo seguinte, ao desenvolverem o primeiro dispositivo sólido que gerava eletricidade a partir da luz: uma fina camada de selénio sobre ferro, coberta por um filme semitransparente de ouro. A eficiência era ínfima — apenas 0,5% — contudo, a semente estava lançada. Tão lançada, que Werner Siemens, o visionário engenheiro alemão, acabaria por comercializar células de selénio como fotómetros para máquinas fotográficas. O potencial era real, ainda que adormecido.

Seis anos depois, em 1883, e insistindo neste material, Charles Fritts construiu a primeira célula solar funcional, feita com uma fina camada de ouro sobre selénio. O rendimento? Apenas 1%. Quase inútil em termos práticos, mas simbólico em termos de visão. A ideia de converter luz solar diretamente em eletricidade já não era ficção científica — era engenharia experimental.

Durante a primeira metade do século XX, o sonho solar teve de esperar. Faltava-lhe a linguagem da física moderna. Foi a explicação do efeito fotoelétrico por Albert Einstein, em 1905, que lhe deu alicerces teóricos. A chegada da mecânica quântica e da teoria de bandas, o domínio dos semicondutores e o nascimento do transístor de silício abriram finalmente caminho para o que viria a seguir: a célula solar como a conhecemos hoje.

A corrida espacial e a revolução tecnológica nas células solares 

O verdadeiro ponto de viragem só viria em 1954, quando os laboratórios Bell, nos Estados Unidos, apresentaram ao mundo a primeira célula solar de silício com eficiência prática: cerca de 6%.

Um marco que coincidiu com a era da corrida espacial, onde o peso e a autonomia energética eram tudo — alimentando satélites e sondas, onde outras fontes de energia simplesmente não funcionavam.

Mas nem tudo se desenrolou sem resistência. Inicialmente, as missões espaciais confiavam em pilhas químicas ou geradores nucleares e as células solares eram vistas como um luxo experimental. Foi preciso uma falha para mudar o rumo. Em 1958, o Vanguard I, o quarto satélite artificial norte-americano (mas o segundo com sucesso), foi equipado com um pequeno painel solar de 100 cm² como sistema de reserva. Quando a pilha principal falhou, esse painel manteve o transmissor ativo durante mais de seis anos – provando que o Sol podia ser uma fonte de energia fiável, durável e leve. A partir daí, não houve retrocesso.

Pouco tempo depois, os soviéticos seguiram o mesmo caminho com o Sputnik-3, e assim, durante as décadas seguintes, praticamente todos os veículos espaciais — dos satélites à Estação Espacial Internacional, dos módulos lunares aos rovers marcianos — passaram a depender da energia solar.

Durante a segunda metade do século XX, a energia fotovoltaica evoluiu silenciosamente, à margem da paisagem energética dominada por combustíveis fósseis. Era vista como cara, pouco eficiente e tecnicamente limitada. Mas nos bastidores, investigadores e engenheiros aperfeiçoavam materiais, reduziam custos e sonhavam com o impossível: painéis solares acessíveis a todos.

O sonho do século XXI transformado em realidade

Impulsionado por avanços tecnológicos, incentivos governamentais e uma consciência ambiental crescente, o preço da energia solar caiu mais de 80%, tornando-se acessível a uma escala global, e a eficiência dos painéis disparou. O que antes era nicho, tornou-se mainstream. Telhados, quintais, desertos e até satélites hoje brilham com células fotovoltaicas.

A massificação da instalação de sistemas solares em habitações e edifícios, a liderança da China na capacidade instalada e inovações como as baterias domésticas para armazenar energia, como é o caso da Powerwall da Tesla, têm marcado o cenário energético do primeiro quarto do século XXI. Mas também a construção de centrais solares flutuantes, o desenvolvimento de painéis integrados em fachadas e janelas, edifícios públicos 100% alimentados por energia solar, e o reconhecimento desta energia como a “nova rainha dos mercados elétricos”, segundo a Agência Internacional de Energia.

Atualmente, setenta anos após a criação da primeira célula solar de silício, a energia solar não é apenas uma alternativa – é tecnologia, sustentabilidade e independência, e uma oportunidade para redesenhar o futuro energético… à velocidade da luz.

👉 A The Navigator Company, mentora do projeto My Planet, detém uma vasta experiência na geração de energia a partir de fontes renováveis. Em 2024, atingiu novos marcos históricos ao concluir a instalação de centrais fotovoltaicas para autoconsumo nas suas unidades da Figueira da Foz, Aveiro e Vila Velha de Ródão. Com uma capacidade instalada de cerca de 38 MW, a empresa tornou-se, em contexto industrial, o maior produtor de energia solar em autoconsumo em Portugal.