Os animais também mentem

30 de Março 2022

Parece mentira, mas é mesmo assim. Há animais que usam estratégias para enganar inimigos, sejam predadores ou adversários da mesma espécie. Além disso, há também aqueles que deixam de confiar em pessoas mentirosas.

Não é exclusiva da espécie humana. A mentira está presente no reino animal das mais variadas formas, algumas bem sofisticadas. Sem juízos morais, pois na natureza o que conta é a sobrevivência.

A raposa, por exemplo, é conhecidamente ardilosa. Peter Wohlleben, no seu livro “A Vida Secreta dos Animais”, conta que entre as suas patranhas, ela é capaz de se fingir de morta, mantendo-se imóvel durante o tempo que for preciso, para convencer os mais incautos. Chega a pôr a língua de fora para que o “quadro” seja ainda mais credível. Certas aves acabam por cair na esparrela, aproximam-se sem desconfiar da sua sorte e acabam por ser comidas pela raposa matreira.

Oh mãe, ele bateu-me!

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Entre os primatas, há inúmeros exemplos de situações em que os animais usam a mentira para benefício próprio. Richard Byrne e Andrew Whiten, psicólogos e especialistas em evolução, passaram décadas a estudar o comportamento de várias espécies de primatas e registaram centenas de situações em que estes animais recorrem a mentiras e estratégias para intrujar, enganar ou manipular os seus semelhantes ou inimigos. Como um certo babuíno que decidiu desatar a gritar ao ver um companheiro a desenterrar um tubérculo de uma planta bastante apreciada – a mãe apareceu de imediato e afugentou o “dono” do petisco, pensando que este estaria a maltratar o seu filho, que, afinal, só queria o caminho livre para se apoderar do achado e saboreá-lo sozinho.

Olha como eu sou grande e perigoso!

Simular um tamanho maior do que o real é uma das mentiras comuns no mundo animal, como forma de assustar adversários ou predadores. Há o exemplo conhecido dos gatos e do seu pelo eriçado, que os faz parecer maiores quando se sentem em perigo. O mesmo fazem algumas aves, ao abrir as asas.

Esta estratégia, por vezes, pode envolver trabalho de equipa. Há espécies de peixes minúsculos, no Oceano Índico, que fazem com que o cardume, como um todo, se assemelhe a um enorme peixe, e conseguem assim afastar alguns predadores que se sentem pequenos perante tal gigante.

 

A mentira dos camuflados

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Também há no reino animal mentiras que não são comportamentos, mas antes características do aspeto exterior dos bichos. São normalmente estratégias de defesa naturais que a espécie desenvolveu. Como a borboleta-pavão que, através do desenho das asas em forma de dois enormes olhos, assusta potenciais predadores. Ou a Mosca-das-flores, com as suas riscas pretas e amarelas que afastam inimigos ao assemelhar-se com as vespas, essas sim, verdadeiramente perigosas.
Já o camaleão e o polvo vão mais longe ao mudarem de cor de acordo com o ambiente em que estão, de forma a passarem despercebidos. E o inseto bicho-pau tem a capacidade de se tornar parecido com um pequeno galho, o que o torna praticamente invisível aos olhos dos predadores.

 

Cães deixam de acreditar em quem já lhes mentiu

Segundo um estudo realizado na Universidade de Quioto, no Japão, os cães deixam de confiar em humanos que lhes mentiram. Pelo menos na situação em que foram enganados, não voltam a seguir uma indicação semelhante, mesmo que o mentiroso seja o seu dono. “Os cães têm uma inteligência social mais sofisticada do que pensávamos. Essa inteligência evoluiu seletivamente ao longo da sua longa história de vida com os seres humanos”, afirma Akiko Takaoka, autor do estudo.