As novas regras do clima

8 de Julho 2025

Os modelos previam, os dados confirmam: Portugal vive hoje num clima diferente – mais quente, mais instável e mais extremo. As novas normais climatológicas mostram que o futuro previsto há 20 anos já chegou. Agora, é tempo de ação.

O planeta continua a aquecer e Portugal não é exceção. Os mais recentes dados do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) mostram exatamente isso: estamos a viver num território com mais calor extremo e mais episódios de chuva intensa.

De tempos a tempos, os cientistas atualizam o “termómetro de fundo” do nosso clima. Ou seja, o conjunto de dados que serve de base para comparar se um ano foi mais quente ou mais seco do que o habitual.

Com a entrada da década de 2010 no cálculo das normais climatológicas (que passaram a referir-se ao período 1991–2020), o IPMA confirma o que muitos já pressentiam: a temperatura máxima tem sido o principal motor da mudança climática em Portugal nos últimos 30 anos. Ainda não foi avançada a quantificação desta variação, mas é certo que os episódios de calor se tornaram mais frequentes e extremos. Além disso, os padrões de precipitação estão mais intensos, mas concentrando-se em menos dias.

As previsões passaram a realidade

As normais climatológicas são os valores médios do clima calculados num período de 30 anos, a partir de indicadores como temperatura, precipitação e humidade. Servem para representar o que é “normal” num dado local e ajudam a perceber como o clima está a mudar. Esta convenção de usar um período de 30 anos como referência foi definida pela Organização Meteorológica Mundial, precisamente porque séries longas de dados permitem detetar tendências e variações climáticas com fiabilidade. Em Portugal, o IPMA mantém registos desde 1865.

As alterações identificadas com a inclusão da nova década (2010) não são uma surpresa para os especialistas, uma vez que os modelos climáticos já apontavam para este cenário há 20 ou 30 anos. Mas tornam os alertas cada vez mais prementes para a sociedade.

O que antes era previsão é agora realidade: um país mais quente, com mais extremos e menos estabilidade nos padrões do clima. Face a este novo normal, o desafio passa por adaptar práticas, infraestruturas e estilos de vida desde a gestão da água até à resposta a ondas de calor para garantir que continuamos resilientes enquanto sociedade.

O clima no mundo nos próximos cinco anos

As previsões globais para os próximos cinco anos (2025-2029), destacadas no recente relatório “Global Annual to Decadal Climate Update”, da Organização Meteorológica Mundial (OMM), são também preocupantes:

Há 86% de probabilidade de que pelo menos um dos próximos cinco anos ultrapasse os 1,5°C de aquecimento em relação à média pré-industrial (1850–1900).

Há 70% de probabilidade de que a média dos cinco anos também fique acima desse limiar crítico, estabelecido como meta no Acordo de Paris.

Há 80% de hipótese de se bater um novo recorde de temperatura global, superando o ano mais quente até agora: 2024.

Ainda assim, o aquecimento a longo prazo (média de várias décadas) permanece ligeiramente abaixo dos 1,5°C.

Ko Berratt, secretária-geral da OMM, refere, em comunicado, que “Acabámos de viver os dez anos mais quentes de sempre desde que há registos. Infelizmente, este relatório não prevê qualquer sinal de alívio nos próximos anos, o que significa que haverá um impacto negativo crescente nas nossas economias, na nossa vida quotidiana, nos nossos ecossistemas e no nosso planeta”.

A ciência é clara: o aquecimento global não é um risco futuro, é um fenómeno presente, com impactos cada vez mais visíveis, em Portugal e no mundo.

O novo normal climático exige novas respostas: mais ambição na redução de emissões, mais investimento na adaptação dos territórios e uma maior consciência coletiva sobre o papel de cada um.

O tempo de “prevenir” já passou – agora é tempo de agir.

A temperatura máxima tem sido o principal motor da mudança climática em Portugal nos últimos 30 anos.