O estatuto de conservação do lince-ibérico – uma espécie que, há 20 anos, se encontrava perto da extinção – passou de “Em perigo” para “Vulnerável”. Um caso de sucesso, que representa a maior recuperação de um felino já alcançada através de medidas de conservação.
O lince-ibérico (Lynx pardinus), primeiro felino do mundo a ser considerado “Criticamente em perigo”, em 2001, e que já tinha recuperado para “Em perigo”, viu novamente o seu estatuto de conservação melhorado, passando para “Vulnerável”.
A boa notícia foi recentemente avançada, em comunicado, pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), que vai atualizar em breve a sua Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas.
Depois de mais de vinte anos de esforços concertados entre várias entidades de Portugal e Espanha, o lince-ibérico, que estava à beira da extinção no princípio dos anos 2000, recuperou consistentemente a sua população. Em 2015, a espécie subiu o seu primeiro degrau na escala do estatuto de conservação, tendo passado de “Criticamente em perigo” para “Em perigo”.
Segundo o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a população de lince-ibérico passou “de menos de 100 exemplares contabilizados em 2002 para mais de 2000 em 2023”. Nos últimos anos, o incremento foi ainda mais rápido, salienta o Instituto: “Em 2020 a população total era de 1.111 linces e apenas três anos decorridos adicionaram-se quase 900 indivíduos à população ibérica.” Dos mais de 2000 exemplares contabilizados no censo de 2023, 291 habitam em território português.
Trata-se da “maior recuperação de uma espécie de felino já alcançada através da conservação”, revelou Francisco Javier Salcedo Ortiz, coordenador do projeto LIFE Lynx-Connect, no comunicado da UICN.
Um caso de sucesso
A recuperação do lince-ibérico é um claro exemplo de como as políticas de recuperação das espécies podem ser verdadeiramente compensadoras e de que é possível intervir com sucesso na perda de biodiversidade.
A situação deste felino emblemático permite prever um futuro cada vez mais promissor, mas os esforços de conservação da espécie não podem terminar aqui. Num comunicado do governo português, em que o Ministério do Ambiente e Energia “saúda a mais bem-sucedida recuperação de felino”, o presidente do ICNF, Nuno Banza, reforça a vontade de Portugal em “continuar a envidar todos os esforços de cooperação para que o lince-ibérico seja removido das categorias de ameaça da Lista Vermelha da UICN”.
Para isso, é necessário continuar a atuar sobre os fatores de ameaça, que não deixaram de existir. A UICN alerta: “O lince-ibérico continua ameaçado, principalmente devido às potenciais flutuações da população de coelho-bravo, caso surjam novos surtos de vírus (…). A caça furtiva e os atropelamentos continuam a ser ameaças, especialmente onde as vias de trânsito intenso atravessam o habitat do lince. As mudanças nos habitats, devidas às alterações climáticas, são uma ameaça crescente”.
As ameaças e as ações que as combatem
Entre as causas do cenário de pré-extinção em que o lince-ibérico se encontrava no começo deste século, estiveram a regressão populacional da sua principal presa, o coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus), mas também a perda e deterioração dos seus habitats. Para o aumento da população da espécie, a UICN salienta, por isso, a importância das medidas centradas “no aumento da abundância das suas presas, como o ameaçado coelho-bravo, na proteção e restauro do habitat mediterrânico e florestal, e na redução das mortes causadas pela atividade humana”.
Através de projetos e acordos de cooperação entre Portugal e Espanha, postos em prática desde 2002 e envolvendo entidades públicas e privadas, promoveu-se a reprodução e distribuição territorial da espécie. Foram fundamentais os diversos projetos LIFE Lince, que priorizaram, o restauro dos habitats, a monotorização de populações, tanto de lince como de coelho-bravo, e a criação de “ecodutos” – que permitem a deslocação da fauna sem a necessidade de atravessamento de estradas. Também determinante foi a reprodução em cativeiro, no âmbito do programa de conservação ex-situ.
Trata-se da maior recuperação de uma espécie de felino já alcançada através da conservação.