O novo mundo das embalagens inteligentes

14 de Setembro 2023

Não estamos a falar de futurismo. O papel já pode comunicar eletronicamente. Está aberto o caminho para as embalagens “com vida”.

O papel é um bioproduto ancestral, mas tem cada vez mais aplicações, tornando-se uma peça-chave na bioeconomia circular. “Inovação sustentável para um futuro inteligente” é o mote que norteia os vinte investigadores do Laboratório Colaborativo AlmaScience – Beyond Paper (Para Além do Papel), que todos os dias procuram novas respostas para a substituição de materiais de origem fóssil, essencial no combate às alterações climáticas.

No mundo das embalagens, dominado pelos plásticos de uso único, a necessidade desta substituição torna-se ainda mais urgente. Por isso, no Almascience investe-se todos os dias no desenvolvimento de projetos disruptivos nas áreas da eletrónica de papel e das tecnologias sustentáveis de base celulósica.

“A nossa missão é fazer a ponte entre o conhecimento, o que está a ser descoberto na Academia, e quem pode produzi-lo, ou seja, torná-lo viável e concretizável em larga escala. Esta ponte é muito importante para a economia, sobretudo no momento de transição que estamos a viver”, afirma Yoni Engel, responsável de Desenvolvimento de Negócios do AlmaScience.

 

Papel inteligente dá origem a embalagens “com vida”

A chamada eletrónica de papel é uma das áreas que o AlmaScience tem vindo a estudar. Yoni Engel explica o conceito: “Superfícies de papel que possam ser ativadas eletronicamente e que possam ter sensores de pressão. Estamos a criar este papel interativo, a chamada ‘eletrónica de grande área’. No fim de vida, este papel, que pode durar um ou dois anos, é colocado num compostor e dele não sobrará qualquer resíduo. No fundo, será eletrónica compostável.”

Outro ponto fundamental desta solução, para além da biodegradabilidade, é a facilidade e o baixo custo de produção. “O processo passa por cobrir a superfície de papel com gel à base de celulose e imprimir a parte eletrónica. Não necessitamos de deslocalizar a produção, nem ficamos dependentes de componentes eletrónicos que têm um custo elevado e um processo produtivo – e um fim de vida – muito poluentes”, explica Yoni Engel. “A eletrónica de papel pode ser produzida aqui em Portugal e tem um nível muito baixo ou mesmo nulo de resíduos. É sustentável e com uma pegada ambiental mínima ou inexistente”, conclui.

E em que áreas pode ser aplicada? “Hoje, com a Internet das Coisas, há uma vasta gama de dispositivos que poderão recorrer à eletrónica de papel, pois não necessitam de muita sofisticação e durabilidade”, responde Yoni Engel. A área das embalagens é uma delas. “Estamos a dar vida à embalagem”, revela. “Queremos que ‘fale’ com os destinatários, com os responsáveis pelo transporte, pela distribuição, com os operadores logísticos ou os consumidores finais, em diferentes pontos do seu percurso. Para além de ser rastreável a qualquer momento, vai poder dar indicações, por exemplo, sobre as suas condições, o que, no caso de alimentos, é especialmente relevante”, acrescenta.

Tudo isto através de etiquetas impressas em papel. “É muito simples do ponto de vista dos materiais que utiliza. Dispensa chips de silício, que são convencionalmente usados nas etiquetas com este tipo de funcionalidades. Será tudo feito em papel e por tecnologias de impressão, produzido com baixo custo, em larga escala, e compostável no fim de vida da embalagem”, explica Luís Pereira, Diretor Técnico e Científico do AlmaScience.

A eletrónica de papel pode também ser usada pelas empresas para envolver o consumidor. “É o que estamos a estudar para uma marca de vitaminas, na sua gama para crianças. Propusemos que a sua embalagem de papel tenha uma zona que possa ser usada como um controlador ou ‘game pad’, que interage com um videojogo a decorrer num tablet ou telemóvel. Já temos a tecnologia para o fazer, convertendo a energia mecânica dos toques no papel em impulsos elétricos”, conta Yoni Engel. “O conceito é simples, a integração também, e obtemos um produto sustentável. Além disso, em larga escala, o custo de produção será reduzido”, garante Luís Pereira.

A eletrónica de papel é um mundo que está prestes a chegar às nossas mãos. E que, além de proteger o planeta, propõe soluções práticas e úteis para o dia-a-dia.

 

A Navigator é um dos principais parceiros do AlmaScience

Como parceiros, na área científica, o laboratório colaborativo AlmaScience tem a Universidade Nova de Lisboa, a Associação para a Inovação e Desenvolvimento da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (NOVA.ID.FCT), o RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel (Laboratório de I&D detido pela The Navigator Company, Universidade de Aveiro, Universidade de Coimbra e Universidade de Lisboa, através do Instituto Superior de Agronomia), e a Associação Fraunhofer Portugal Research. Mas também tem cinco parceiros industriais, entre os quais se encontra a The Navigator Company, mentora do projeto My Planet. O laboratório faz assim a ponte entre a Academia, com as suas ideias disruptivas, e a indústria, que vai pôr essas ideias a circular, enquanto produtos.

 

O papel é renovável e biodegradável, o que torna o suporte ideal para certas aplicações da eletrónica, no contexto da transição para a bioeconomia circular e sustentável.

 

A eletrónica de papel pode ser produzida em Portugal. É sustentável e tem uma pegada ambiental mínima ou inexistente.