Uma volta ao mundo através da escrita

21 de Janeiro 2025

Herança cultural das diferentes civilizações, cada sistema de escrita é único. Através da caligrafia, assume a sua forma artística, num reencontro sempre novo com o papel.

Escrever à mão. Uma prática tão antiga quanto basilar na história da humanidade. Cada sistema de escrita corresponde a uma herança cultural, mas seja qual for a geografia, a escrita à mão materializa-se no papel, denominador comum que traz até aos dias de hoje narrativas distintas, onde estão impressas diferentes identidades civilizacionais.

De acordo com o projeto The World’s Writing Systems (Os Sistemas de Escrita do Mundo), estão documentados mais de 290 sistemas de escrita. Estes correspondem ao “conjunto de caracteres gráficos que, combinados entre si, fornecem a representação visual de uma ou várias línguas”. Refletidos no papel, esses sistemas tornam-se uma expressão artística através da caligrafia, que tem um lugar central na história da escrita à mão.

Numa era cada vez mais dominada pelo digital, a palavra escrita no papel perdura como uma âncora de autenticidade, quase como a impressão digital manuscrita de cada indivíduo. E os benefícios são muitos para quem privilegia a escrita à mão. Vários estudos ao longo do tempo sugerem que escrever em papel ativa as áreas do cérebro relacionadas com a memória e a compreensão, permitindo uma aprendizagem mais estruturada e maior retenção de informação. Desenvolve ainda as habilidades motoras e é um estímulo à criatividade.

Um estudo recente, realizado na Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, e publicado na revista científica Frontiers in Psychology, veio dar uma nova perspetiva, focando-se no que acontece no nosso cérebro quando desenhamos as palavras. O trabalho revelou, através de eletroencefalogramas, que os níveis de atividade elétrica e conectividade, numa vasta gama de regiões cerebrais, são mais elevados quando se escreve à mão do que quando se digita num teclado.

As zonas ativadas são as responsáveis ​​pelo movimento, visão, processamento sensorial e memória. Por isso, os autores do estudo recomendam que as crianças sejam, desde cedo, expostas a atividades de escrita à mão na escola, para estabelecer os padrões de conectividade neuronal que proporcionam ao cérebro as condições ideais de aprendizagem.

A propósito do Dia Mundial da Escrita à Mão, que se assinala a 23 de janeiro, e dando destaque a todas estas vantagens do suporte papel, convidamo-lo a fazer uma viagem à volta do mundo através dos mais usados sistemas de escrita: o alfabeto latino, e os sistemas de escrita chinês e árabe.

Letras redondas, elegantes e elaboradas 

O alfabeto latino, ou romano, é o mais usado no Planeta. Quase 70% da população mundial comunica através dele e são pelo menos 305 os idiomas que o usam na sua expressão escrita. Presente na maioria das línguas da Europa, África, América e Oceânia, é composto por 26 letras, que começaram a ser desenhadas durante o Império Romano.

De início, havia apenas letras maiúsculas. Mas, durante a Idade Média, na transcrição de textos bíblicos e litúrgicos, surgiram as minúsculas carolíngias que, em conjunto com as capitais ornamentais, deram uma identidade única a estes manuscritos através dos quais o Cristianismo se disseminou. Originalmente quadradas, as letras tornaram-se progressivamente redondas, muito elaboradas e com uma forma elegante. São elas as precursoras das diversas fontes que a escrita ocidental utiliza ainda hoje.

Pinceladas de harmonia, disciplina e paciência 

No sistema de escrita chinês, cada símbolo representa uma palavra e não um som, como acontece nos alfabetos. A caligrafia chinesa, conhecida como Shufa, é muito mais do que um meio de comunicação: é uma arte reverenciada, onde a harmonia e o equilíbrio são valores primordiais. Pinceladas retas, lineares ou delicadamente curvas, fazem dela uma prática que requer disciplina e paciência.

A título de exemplo, saiba que no sistema de escrita chinês, a palavra “planeta” se escreve assim: 行星. E se quiser pronunciá-la, pode tentar com a ajuda do alfabeto latino: “xíngxīng”.

A escrita da arte divina

O sistema de escrita árabe é composto por 28 letras. É considerado um sistema consonântico (ou abjad), uma vez que cada símbolo representa uma consoante. As vogais são representadas por sinais, à semelhança dos nossos acentos.

A caligrafia árabe tem um valor espiritual. Usada para a transcrição do Alcorão, a palavra é sagrada e o calígrafo é o mensageiro que transmite os mandamentos divinos. É também considerada a realização máxima da arte muçulmana, com reflexos na arquitetura, nos padrões dos tecidos e nas moedas.

No sistema de escrita árabe, a palavra “planeta” é desenhada assim: كوكب, pronunciando-se “kawkab”.

A escrita à mão materializa-se no papel, denominador comum que traz até aos dias de hoje narrativas culturais distintas, onde estão impressas diferentes identidades civilizacionais.