2023: o ano mais quente de sempre

21 de Março 2024

Sete anos depois, 2016 perdeu ‘título’ de ano mais quente de sempre. Mas especialistas preveem que 2023 será considerado, num futuro próximo… um ano frio.

A Organização Meteorológica Mundial (OMM) confirmou o ano de 2023 como o mais quente de sempre, por uma larga margem, tendo a temperatura média anual global atingido um valor muito próximo do limiar crítico de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais (registados entre 1850 e 1900). Embora os registos remontem apenas a menos de dois séculos, os cientistas defendem, pelas evidências dos anéis das árvores e dos núcleos de gelo, que este é o período mais quente da Terra em mais de 100.000 anos.

Ainda que os primeiros cinco meses do ano não o fizessem prever, as temperaturas globais sem precedentes registadas entre junho e dezembro tornaram o ano passado o mais quente da história. Cada um destes sete meses bateu recordes e contribuiu para que, nas contas finais, a temperatura tenha ficado 1,48°C acima da média pré-industrial.

Mas há mais. Segundo os especialistas do Serviço de Monitorização das Alterações Climáticas do Copernicus (C3S) – programa da União Europeia –, cada dia de 2023 esteve pelo menos 1°C acima do nível pré-industrial e houve dois dias (17 e 18 de novembro) a registar mesmo 2°C acima desse valor. Por outro lado, julho e agosto, foram os dois meses mais quentes alguma vez registados, de acordo com a OMM.

“Foi um recorde durante sete meses. Tivemos os meses de junho, julho, agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro mais quentes”, declarou Samantha Burgess, vice-diretora do Copernicus, numa conferência de imprensa que juntou vários investigadores da área do clima. Existem múltiplos fatores que fizeram de 2023 o ano mais quente já registado, mas o grande responsável foi, de longe, afirmou a especialista, a quantidade cada vez maior de gases com efeito de estufa presente na atmosfera. Estes gases, que retêm o calor, provêm da queima de carvão, petróleo e gás natural, apontou.

Apesar das temperaturas recorde registadas no ano passado, a verdade é que, num futuro próximo, 2023 pode deixar de ser lembrado com um ano quente.  Carlo Buontempo, diretor do Copernicus afirmou que, “seguindo a trajetória atual, dentro de alguns anos, 2023 provavelmente será lembrado como um ano frio.”

2024 pode tornar-se um marco na história do clima mundial

“2024 tem muitas probabilidades de vir a ficar entre os três anos mais quentes de sempre, se não mesmo no primeiro lugar”, afirmou Emily J. Becker, cientista da Universidade de Miami ao jornal New York Times.

Já para o Met Office, serviço nacional de meteorologia do Reino Unido, as previsões são claras. “Pela primeira vez, prevemos uma probabilidade razoável de um ano exceder temporariamente o limite de 1,5°C”, referiu o cientista Nick Dunstone, numa notícia publicada no site oficial do organismo. Caso aconteça, “não será, ainda, uma violação do Acordo de Paris, mas tornar-se-á, certamente, um marco na história do clima mundial”, alerta.

Por todas estas razões, os cientistas do Copernicus continuam a apelar a todos os países para atingirem a neutralidade carbónica o mais depressa possível, de forma a minimizar o risco de mais anos com temperaturas recorde. “Enquanto as concentrações de gases com efeito de estufa continuarem a aumentar, não podemos esperar resultados diferentes dos observados”, considerou Carlo Buontempo. E deixou o aviso: “A temperatura continuará a subir, assim como os impactos das ondas de calor e das secas. Alcançar emissões líquidas zero o mais rapidamente possível é uma forma eficaz de gerir os nossos riscos climáticos.”

As previsões apontam para que 2024 possa bater os recordes de 2023 e tornar-se um marco na história do clima mundial.