Biodiversidade nas florestas de produção

4 de Agosto 2022

As florestas de produção albergam diversas espécies e oferecem abrigo e passagem para outras, podendo desempenhar um papel importante na conservação da biodiversidade.

A Península Ibérica contém cerca de 50% das plantas e vertebrados terrestres e mais de 30% das espécies endémicas da Europa, com a floresta a assumir um papel vital na preservação da biodiversidade.

E se as florestas ou bosques naturais são essenciais para aumentar a resiliência dos ecossistemas, as florestas de produção têm também um papel a desempenhar.

“É normal que as florestas de produção não tenham a mesma riqueza em termos de biodiversidade, uma vez que são florestas não nativas, plantadas com o objetivo de produção. Mas também não correspondem àquela ideia de ‘deserto verde’ e, sobretudo, sabemos que há condições e estratégias para que o seu impacto na biodiversidade seja minimizado”, afirma Miguel Rosalino, investigador e professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

“Mesmo para as espécies que não habitam dentro das florestas, estas áreas acabam por funcionar como territórios de caça ou zonas de passagem”, refere Nuno Rico, responsável pela conservação da biodiversidade na The Navigator Company, mentora do projeto My Planet.

Esta floresta de produção pode representar ainda um habitat complementar para espécies que habitam em espaços florestais. É o caso da águia-de-Bonelli e do açor (aves de rapina ameaçadas), que escolhem árvores mais antigas, de médio e grande porte, para nidificar, e estão presentes, nomeadamente, em eucaliptos de grande porte junto ou dentro de algumas das propriedades geridas pela Navigator, onde são protegidas.

Quando a gestão faz a diferença

“As zonas de plantação de eucalipto têm impacto na biodiversidade, mas é importante avaliar como e quanto. Sabemos que há espécies que podem usar o eucaliptal, mesmo que não seja o seu habitat natural. Ele pode ser permeável, e isso é benéfico. É possível criar condições para que não sejam zonas estanques”, garante Miguel Rosalino, para quem é necessário “criar conhecimento sobre as espécies que podem viver ou usar o eucaliptal e saber mais sobre que variações existem na biodiversidade em eucaliptais com diferentes características, mesmo sendo todos produtivos.”

São as práticas de gestão silvícola que fazem a diferença no que toca à conservação da biodiversidade dentro de uma propriedade com floresta de produção. Em Portugal, os mais de 104 mil hectares de floresta sob gestão da The Navigator Company albergam 245 espécies de fauna e mais de 800 espécies e subespécies de flora, incluindo quatro espécies “criticamente em perigo”, 13 “em perigo” e 36 com estatuto “vulnerável”. Atualmente, 12.364 hectares da área florestal sob gestão da Navigator são Zonas de Interesse para a Conservação.

Açor (Accipiter fasciatus)

Um caso de sucesso

A águia-de-Bonelli (Aquila fasciata) é uma grande rapina típica do habitat mediterrâneo, cuja envergadura pode atingir os 1,7 metros. A nível nacional, tem uma população reprodutora que excede ligeiramente os 100 casais, estando classificada como espécie “em perigo” no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. Constrói o ninho em escarpas ou árvores de grande porte e está presente nas propriedades da Navigator do sudoeste alentejano e Algarve, onde é alvo de medidas de proteção e conservação há vários anos, que têm tido sucesso na fixação da espécie na região.

Águia-de-Bonelli (Aquila fasciata)