O Dia Mundial do Bioproduto promove a adoção de mais materiais de base biológica para substituição de opções não renováveis. Saiba porque está Portugal bem posicionado para liderar esta transição.
Quando o Fórum Mundial da Bioeconomia lançou, a 7 de julho de 2021, o Dia Mundial do Bioproduto, anunciou que “através da adoção de mais materiais de base biológica, podemos avançar para soluções que são mais sustentáveis e saudáveis para nós e para o planeta, ao afastarmo-nos de matérias-primas com origem nos combustíveis fósseis”.
Todos estamos sensibilizados para a necessidade de fazer a transição de uma economia linear, baseada em matérias não renováveis, para uma bioeconomia circular, que privilegie produtos de origem natural e renovável, que sejam biodegradáveis, recicláveis e produzidos de forma sustentável. Mas será que estamos conscientes do potencial infinito dos bioprodutos e de como já fazem parte da nossa vida?
Por exemplo, quando lemos um livro temos nas mãos um bioproduto por excelência. O papel, graças à sua base florestal renovável, retém o CO2 que as árvores retiraram da atmosfera, contribuindo para a descarbonização, para além de ser um dos materiais com maior taxa de reciclagem. Recentemente, tem-se constituído também como uma alternativa natural aos plásticos, sobretudo os de uso único, em embalagens e utensílios.
Quando privilegiamos a madeira ou cortiça, em detrimento do plástico, também estamos a optar por bioprodutos. O mesmo se aplica aos tecidos naturais, em vez dos sintéticos de base petroquímica: uma camisola de poliéster, segundo dados do World Resources Institute, tem mais do dobro da pegada de carbono de uma de algodão.
Para escolher as melhores opções, e uma vez que nem todos os bioprodutos são iguais, o consumidor deve garantir que o que compra tem na sua origem matérias-primas o mais ecológicas possível. O vestuário é um bom exemplo. Embora o algodão seja um bioproduto, o não orgânico, de produção intensiva convencional, requer uma grande quantidade de água. No outro prato da balança, entre os tecidos mais sustentáveis, encontramos o lyocell, feito a partir de polpa de madeira dissolvida, proveniente de florestas bem geridas de eucalipto, carvalho e bétula.
Na realidade, a celulose que provém de biomassa florestal, em vez de produções agrícolas, é ainda mais sustentável para o fabrico de bioprodutos, porque, em relação à agricultura, a floresta exige menos consumo de energia, tem menores taxas de erosão do solo, tem uma gestão menos intensiva, promove maior biodiversidade e melhora o equilíbrio do ciclo da água.
Portugal na linha da frente da bioeconomia
A associação europeia Bio-based Industries Consortium (BIC) considera que Portugal tem “poder económico e de inovação, e matéria-prima de biomassa, para expandir rapidamente as atividades industriais de base biológica, e para se tornar num forte parceiro na bioeconomia europeia”. O seu relatório refere que, nos setores de processamento de base biológica, “os líderes em termos de valor de produção são as indústrias dos alimentos e bebidas, papel e pasta para papel, e processamento de madeira”.
A The Navigator Company – empresa de base florestal mentora do projeto My Planet – assume esse compromisso com as pessoas e o planeta, através do investimento em projetos como o Inpactus – Produtos e Tecnologias Inovadores a partir do Eucalipto, cuja I&D deu origem a quatro bioprodutos já em comercialização e a 37 patentes inovadoras.
Este projeto, que é o maior investimento alguma vez realizado em Portugal num programa de I&D no domínio da bioeconomia de base florestal (14,6 milhões de euros), confirmou que a biomassa florestal, proveniente de florestas plantadas com gestão sustentável, como a que está na base da indústria da pasta e papel, é um biomaterial versátil e que pode ser aplicado noutros setores, como os biocombustíveis, os bioplásticos, a alimentação, a farmacêutica e a cosmética, a higiene, as embalagens avançadas, os químicos sustentáveis e até a eletrónica – sempre como alternativa aos recursos de origem fóssil.
Por outro lado, demonstrou que as características únicas da fibra obtida a partir do eucalipto globulus nacional – que já tinha provado a sua qualidade superior para produção do bioproduto papel, conduzindo a Navigator à liderança mundial em papéis premium de impressão e escrita – proporcionam ainda mais vantagens em termos de sustentabilidade do processo industrial. No fabrico de bioprodutos, a celulose de eucalipto globulus é fácil de processar, com menor impacto ambiental que outras madeiras concorrentes, comprovado por inúmeros estudos nacionais e internacionais. Pode consumir até cerca de 20% menos químicos, exige menos quantidade de madeira para produzir a mesma quantidade de pasta, com diferenças que podem atingir os 30%, aguenta mais dois a seis ciclos de reciclagem nos papéis brancos e aguenta dez ciclos de reciclagem no papel de embalagem, enquanto, por exemplo, as fibras longas nórdicas aguentam apenas dois, para garantir o mesmo padrão de qualidade.