“O importante é o impacto dos nossos comportamentos”

16 de Fevereiro 2022

A causa ambiental fala-lhes ao coração. André Correia e Cristina Sousa querem “acordar as pessoas para o tema” e inspirá-las a mudar atitudes.

Trocaram o carro pela bicicleta e pelos transportes públicos. Reutilizam a roupa, compram a granel, fazem compostagem, apanham lixo, evitam as embalagens de plástico e só compram o que precisam. Gestos que valem sobretudo pelo impacto, porque, dizem, “ser ambientalista é contagiante”.

André Correia, 46 anos, técnico comercial, há cerca de dois anos que andava a pensar no assunto. Até já tinha experimentado o trajeto nas folgas. Em março de 2020, deu-se, finalmente, o clique: vendeu o carro e passou a ir trabalhar de bicicleta. O que significa atravessar a cidade de Lisboa quase toda (vive perto de Belém e trabalha no aeroporto) – 32 quilómetros que percorre com prazer. “Umas vezes vou junto ao rio, mas há alturas em que me apetece ir pelo meio da cidade”, diz.

Este gesto em prol do ambiente permitiu-lhe perceber que “não é uma mudança assim tão escabrosa e difícil largar o carro para nos movimentarmos em Lisboa”, conta. Tirando algumas adequações, como o impermeável para os dias de chuva, “não se muda assim tanto a vida” e, além de mais sustentável, “é também muito mais saudável”.

A mulher, Cristina Sousa, gestora de projeto, também aderiu à causa, mas confessa ainda não ter destreza suficiente para se aventurar de duas rodas até Campolide, onde trabalha. “Ando de bicicleta, mas só aqui pelo bairro”. Quanto ao resto das deslocações, resolvem quase tudo “com o passe no bolso”.

Inspirar pelo exemplo

Os comportamentos ecológicos do casal não se ficam pela mobilidade. Por exemplo, reutilizam a roupa de amigos e familiares, porque, justifica Cristina, “a indústria têxtil e da moda é um grande poluidor; é um consumo descartável, que tem um impacto negativo gigantesco”. E, com um sorriso, conta: “A minha filha tem cinco anos e só lhe comprámos uma vez uma camisa quando ela era bebé!”.

Mas há mais. Compram a granel, privilegiam os produtos agrícolas locais e as refeições vegetarianas, fazem compostagem, participam em ações de voluntariado de apanha de lixo e evitam as embalagens de plástico (usam champô sólido e detergente para a roupa em eco-tiras).

A causa ambiental sempre fez parte da vida de Cristina. Formada em engenharia florestal, desde muito cedo que esteve ligada a movimentos ambientalistas e às questões da conservação de recursos. “O tema da sustentabilidade está presente na minha vida há muito tempo”. Em finais de 2017, foi cofundadora da Zero Waste Lab, “uma associação ligada ao movimento lixo zero, aos padrões de consumo, aos comportamentos, ao rasto de cada um e à relação que temos com as coisas”.

A associação aguçou-lhe ainda mais a necessidade de “tratar” do ambiente. E, sobretudo, ajudou-a a perceber que esta motivação “é contagiante”. Ou seja, “o importante é o movimento de impacto que podemos causar com os nossos comportamentos, e não tanto, por exemplo, a contabilização do dióxido de carbono que emitimos”. Exemplificando, conta: “Quando ando a apanhar beatas na rua, as pessoas ficam impressionadas de ver o bidão cheio; e uma das vezes que fui ao supermercado comprar queijo com o recipiente que levo de casa houve uma senhora que me disse: ‘Também posso trazer o meu? Vou passar a fazer isso!’”. O mesmo aconteceu com André. “Quando passei a chegar ao trabalho de capacete de bicicleta, os meus colegas ficaram muito curiosos e interessados, e quiseram saber mais.”

Este casal acredita que os seus exemplos conseguem inspirar comportamentos e “acordar as pessoas para o tema”. O que, no fundo, até é fácil, diz Cristina, sorridente: “Dizem que um hábito demora 28 dias a instalar-se. Por isso, é só deixar passar esses 28 dias…”.