Das florestas rápidas às árvores no quintal

6 de Março 2023

Lisboa e Porto têm dado provas do reconhecimento da importância dos espaços verdes na construção de urbes mais saudáveis, resilientes e “amigas” do ambiente. Aqui e ali, plantam-se árvores e crescem miniflorestas.

A Câmara Municipal de Lisboa (CML) tem vindo a apostar no “uso sustentável da terra” e a “proteger e melhorar as suas áreas naturais, ao mesmo tempo que proporciona espaços recreativos ao ar livre de qualidade aos seus cidadãos”.

A primeira Floresta Rápida de Lisboa começou a crescer em janeiro de 2022 no Parque da Bela Vista, em Marvila. Ao todo, são 2.500 metros quadrados de uma floresta plantada maioritariamente por voluntários, com 70 por cento das árvores cedidas pela CML através do seu programa de reflorestação, para tornar a cidade mais resistente às alterações climáticas. O projeto é da Urbem, uma organização que, em conjunto com a autarquia local, promove o crescimento deste tipo de floresta dentro das cidades, capazes de absorver carbono e de albergar flora e fauna.

Voluntários plantam a primeira Floresta Rápida de Lisboa, no Parque da Bela Vista, Marvila.

Para a implementação desta minifloresta, foi escolhido o “método Miyawaki”, que passa por otimizar a plantação de florestas com o intuito de restaurar a biodiversidade. Desenvolvido pelo botânico japonês Akira Miyawaki na década de 1970, recorre à escolha das plantas que melhor se adequam ao local, à preparação do terreno e a uma grande densidade de plantas (entre três a cinco pequenas árvores por metro quadrado), o que permite um ritmo de crescimento mais rápido e uma alta taxa de absorção de carbono, capacidade de processar a água da chuva, melhorar a qualidade do ar, reduzir a poluição sonora e contribuir para o conforto térmico local.

Outra minifloresta criada com o mesmo método começou também a nascer em plena Lisboa, numa iniciativa lançada no âmbito do Laboratório Vivo para a Sustentabilidade @ Ciências ULisboa. Em frente ao Edifício C2 da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, o que antes era um relvado de 315 metros quadrados com pouca utilidade e biodiversidade, é agora a FCULresta: uma minifloresta densa, biodiversa e multifuncional, que “pretende ser uma referência e um laboratório vivo para estudantes e investigadores”. Acolhe mais de 600 plantas, dois hotéis para insetos, um refúgio para anfíbios e outro para répteis, e sensores para monitorizar o solo.

O FUTURO está nas árvores

A criação de infraestruturas verdes é também uma preocupação na cidade do Porto. Desde 2014, o município tem estado envolvido no FUTURO, “um esforço planeado e coordenado de várias organizações e cidadãos” com o objetivo de criar e manter florestas urbanas nativas na região, “que precisa de enriquecer a sua biodiversidade, sequestrar carbono, melhorar a qualidade do ar, proteger os seus solos e contribuir para uma melhor qualidade de vida das pessoas.” Ao todo, pretende-se “reflorestar cerca de 100 hectares de áreas ardidas, livres ou que necessitam de reabilitação, com cerca de 100.000 árvores de espécies espontâneas da região”.

Um dos grandes contributos para o FUTURO é o projeto Florestas Urbanas Nativas no Porto – FUN Porto –, que tem como objetivo expandir a área verde nativa na cidade, designadamente através da “Rede de Biospots do Porto”, uma rede de áreas de floresta urbana criada para “promover a biodiversidade, os serviços dos ecossistemas, a adaptação às alterações climáticas e a amenização paisagística”. Será constituída por 14 áreas distribuídas ao longo dos principais eixos de circulação viária, totalizando uma área útil de 25 hectares brutos.

Integrado no FUN Porto, e ainda no âmbito do FUTURO, a câmara promove igualmente a plantação de árvores nativas dentro da cidade através da iniciativa “Se tem um jardim, temos uma árvore para si”. Na 5ª edição do programa, lançada em março deste ano, residentes da cidade e organizações sediadas no concelho com jardins ou quintais puderam candidatar-se a receber até 10 árvores e arbustos nativos das espécies medronheiro, bétula-portuguesa, lódão, pilriteiro, cipreste, macieira-brava e gilbardeira. No total, foram confiados a 159 munícipes e organizações a plantação de 906 árvores e arbustos nativos nos jardins privados da cidade, e oferecidas 1.486 plantas de pequeno porte da flora portuguesa para 265 pátios e varandas.

Iniciativas que visam “transformar o Porto numa cidade afirmativamente mais verde e mais sustentável” e, ao mesmo tempo, uma forma de reconhecer o papel dos munícipes na criação e manutenção da infraestrutura verde na cidade.

Porque, mesmo que seja através da plantação de uma simples árvore, tudo conta.

Imagem de abertura: Parque da Cidade, Porto