Embalagens de papel na alta-cozinha

24 de Junho 2022

O cuidado com o ambiente é um requisito obrigatório quando se trata de embalar refeições. Fomos ver como quatro dos nossos mais conceituados chefs “imprimem” a sua marca numa caixa de papel.

Com a pandemia, mudámos sensibilidades, gestos e hábitos. E alguns deles acabaram por ficar. É o caso do takeaway. Uma solução prática e confortável, que ganhou adeptos e obrigou os restaurantes a reinventar-se.

Sobretudo a alta cozinha, que, sem querer descurar a qualidade e o requinte a que os seus clientes estavam habituados, fez questão de encontrar os menus mais adequados ao transporte e as embalagens mais seguras e ecológicas. Porque chegámos a um ponto incontornável, em que o que cada um faz pelo ambiente é importante.

Chef Vítor Sobral

“Uma questão de cidadania”

“A área das embalagens para takeway é todo um mundo por descobrir, e com um futuro muito risonho”, diz Vítor Sobral. Para já, trabalha com embalagens em cartão duro, ao mesmo tempo que tenta adaptar os seus pratos às condicionantes do transporte. Optou por criar um menu especial para takeaway e começou a desenvolver “receitas que funcionassem melhor no transporte”.

O chef serve em serviço de takeaway e delivery cerca de 1.200 refeições semanais em dois dos seus restaurantes – a “Tasca da Esquina” e a “Peixaria da Esquina”. Um serviço no qual faz questão de imprimir a qualidade e o requinte a que os clientes estão habituados nos seus restaurantes. Sabe que “os olhos também comem” e que “o aspeto visual faz muita diferença”. Por isso, diz, “temos o maior cuidado possível, quer na embalagem das refeições, quer nos sacos”.

Sempre aberto a “novas soluções” para embalar e transportar os pratos, continua a procurar no mercado o melhor que existe em termos de biodegradabilidade. Essa sim, uma condição incontornável. “Já não há volta a dar, já é uma questão de cidadania”, sublinha.

Chef Justa Nobre

“Poupar o ambiente e o mundo”

Conhecida por reinventar a comida tradicional portuguesa, a chef Justa Nobre sempre teve a preocupação de utilizar produtos de qualidade na confeção das suas receitas. Um cuidado que fez questão de estender ao serviço de takeaway. Com uma condição: as embalagens tinham de ser amigas do ambiente.

“Quando foi preciso comprar as embalagens, escolhi pessoas que sabem do assunto e que me podiam ajudar. Falei-lhe das minhas preocupações com o ambiente e pedi-lhes produtos que fossem biodegradáveis e sustentáveis”, conta. As refeições vendidas para fora do restaurante passaram então a ser transportadas em caixas de papel e cartão, personalizadas com o símbolo do restaurante Nobre.

Sabe que o “o aspeto visual também conta” e que “não é a mesma coisa receber a refeição numa embalagem e servir no restaurante em pratos de porcelana”, mas o feedback tem sido o melhor. “As pessoas estão sempre a dar-me elogios sobre o que levaram”, revela, orgulhosa, para notar que “se um cliente encomenda 30 vezes é porque está a gostar!”.

Chef Chakall

“Cresci a ser ecológico”

Nasceu no seio de “uma família ecológica” e cresceu habituado a ver os “cartoneros” a transportar pilhas de cartão pelas ruas de Buenos Aires, e, por isso, a dar valor ao papel. Além disso, nas suas deambulações por quase todo o mundo, viveu na Alemanha, onde “a preocupação ambiental sempre foi muito forte”, o que fez dele um homem muito sensibilizado para a importância de preservar o ambiente. Uma filosofia que faz questão de infundir nos seus seis restaurantes.

“Praticamente só uso plástico nos sacos do lixo, e mesmo estes são biodegradáveis”. Pode parecer pouco, mas “chegámos a uma altura em que o que cada um faz, por mais pequeno que pareça, é importante – um saco de plástico a menos é um saco de plástico a menos, e faz a diferença”, diz.

Por tudo isto, na altura de começar a fazer takeaway – pouco tempo antes da pandemia –, sabia que tinha de ter uma solução amiga do ambiente. “Nunca usámos embalagens de plástico”. Caixas de cartão reciclável e papel biodegradável acabaram por ser “a opção natural”.

Chef Manuela Brandão

“Uma evolução natural”

No “Pap’Açorda”, o serviço de entrega de refeições começou no segundo confinamento, com novo encerramento dos restaurantes. “Num mês, organizámos tudo e começámos a divulgar nas redes sociais. Tivemos logo muita aceitação, e ainda temos”, conta a chef Manuela Brandão, há 40 anos à frente da cozinha do conceituado espaço.

Para o transporte das refeições, desde logo foi imposta uma condição: tinham de ser embalagens recicláveis e/ou biodegradáveis. “Nunca nos passou pela cabeça usar plástico”, diz, sublinhando que “todos temos de ter cuidado com o ambiente”.

Na altura, o mercado deste tipo de embalagens dava ainda os primeiros passos. “Não foi fácil, nem à primeira. Tivemos de ver várias amostras e falar com vários fornecedores”, conta. Usa caixas de vários tamanhos, sempre acompanhadas por um autocolante personalizado.