A floresta gerida de eucalipto produz mais e melhor matéria-prima para a bioeconomia circular, com vantagens ambientais. Promove a saúde dos solos, garante uma maior eficiência no uso da água e sequestra mais carbono por hectare do que as outras florestas plantadas portuguesas.
Perante um futuro com crescente pressão demográfica sobre os recursos e uma cada vez maior procura de materiais de base florestal para substituição de produtos e energia de origem fóssil, surge a pergunta: como criar mais floresta sustentável, para aumentar a produção de madeira e suprir as necessidades da bioeconomia?
A resposta torna Portugal um forte aliado no esforço europeu de transição para um modelo económico mais verde, graças às condições de clima e solo que o país possui para a produção de uma árvore de elevada produtividade e sustentabilidade: o eucalipto globulus.
A ciência comprovou que a floresta plantada de eucalipto apresenta melhor produtividade, melhor eficiência de uso de água e maior sequestro de carbono que as demais florestas plantadas portuguesas. E as diferenças são ainda maiores se a compararmos com usos de solo não florestais, como matos e pastagens, que representam 31% do território nacional.
Maior produtividade
O que torna o eucalipto especialmente produtivo é a sua capacidade de resistir a condições ambientais adversas e de recuperar quando a situação melhora. Por exemplo, possui uma casca resistente ao fogo e mecanismos que lhe permitem sobreviver a períodos de secura. Para além da sua elevada eficiência a assimilar hidratos de carbono – o que permite um crescimento contínuo e um rápido desenvolvimento da copa – e de uma grande eficácia a absorver os nutrientes do solo e de os reutilizar a partir da biomassa das folhas, da casca e dos ramos que caem ao chão.
O crescimento rápido do eucalipto, que permite ter ciclos curtos de plantação e corte, em média, de 12 anos – seguidos, no caso de uma gestão profissional e sustentável, por uma replantação ao fim de duas ou três rotações –, multiplica também a sua capacidade para gerar emprego e riqueza, sobretudo em áreas rurais mais desfavorecidas. Em 2022, a The Navigator Company, mentora do projeto My Planet, investiu um total de 210 milhões de euros na cadeia de valor da produção florestal.
Menos água utilizada
As florestas são um interveniente ativo na regulação do ciclo hidrológico: da água que utilizam, apenas 0,3% fica na madeira e a restante é libertada para a atmosfera. À escala local, contribuem para a promoção da infiltração da água no solo e a regulação do caudal, minimizando risco de cheias. Como tal, o uso da água pelo eucalipto tem sido tema de inúmera investigação.
“O eucalipto é uma árvore de crescimento rápido, mas não requer, de modo geral, mais água por quantidade de biomassa produzida do que outras espécies, o que se traduz numa eficiência superior no uso deste recurso”, pode ler-se na publicação “As plantações de eucalipto e os recursos naturais em Portugal: avanços recentes e desafios para o futuro”, publicada recentemente num número especial da revista científica Silva Lusitana. Para esta eficiência, ou seja, um menor consumo de água por cada metro cúbico de madeira produzido, contribui, por exemplo, a sua capacidade de formar a copa num curto espaço de tempo e de controlar a perda de água por transpiração, devido ao fecho progressivo dos estomas nos períodos de maior restrição hídrica. Graças ao formato alongado das folhas, e às copas pouco densas, o eucalipto também interceta menos água da chuva que outras espécies, permitindo que esta chegue ao solo, contribuindo para uma maior infiltração e maior abastecimento de aquíferos. A posição pendente das folhas favorece a oscilação, o que permite controlar a temperatura, sem gastar muita água.
Melhor solo
A vegetação protege o solo da erosão do vento e da chuva, e as raízes do eucalipto fazem-no especialmente bem. Por se desenvolverem sobretudo (80%) nos primeiros 40 a 80 centímetros da superfície, ajudam a segurar o solo, melhoram a sua estrutura, drenagem e arejamento, e transportam os nutrientes para a superfície. Também as cascas, as folhas e os ramos de eucalipto – que concentram até 70% dos nutrientes da árvore –, quando caem e se decompõem, aumentam a quantidade de matéria orgânica no terreno.
Quando se recorre a boas práticas silvícolas, existem evidências científicas de que o cultivo de eucalipto pode melhorar as propriedades dos solos. Num estudo realizado em Espanha, por exemplo, ficou provado que os nutrientes devolvidos ao solo pelo eucalipto permitem reduzir a sua acidez, o que é determinante para a fertilidade, em comparação com solos de povoamentos de espécies como o sobreiro, o carvalho e o pinheiro.
Fixação de carbono
São estas características de elevada produtividade e eficiência que mais contribuem para o excelente desempenho da árvore ao nível do sequestro de carbono, com um importante efeito mitigador das alterações climáticas. As plantas retiram CO2 da atmosfera, através da fotossíntese, para obterem água e glicose, o açúcar que lhes serve de alimento. Portanto, quanto mais depressa crescem, mais dióxido de carbono consomem e acumulam nas folhas, na casca e na madeira – a madeira tem cerca de 50% de carbono, e cerca de 60 a 70% de um eucalipto adulto é madeira.
“É conhecido que, numa área idêntica, o globulus sequestra três vezes mais carbono que o pinheiro e sete vezes mais que o sobreiro. É uma eficiente máquina biológica para fixar CO2 e produzir material lenhoso”, diz Carlos Pascoal Neto, diretor-geral do RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, laboratório de I&D detido pela The Navigator Company, Universidade de Aveiro, Universidade de Coimbra e Universidade de Lisboa, através do Instituto Superior de Agronomia.
Ao mesmo tempo que contribui para a descarbonização do planeta, o eucalipto acrescenta uma função essencial para a Humanidade: quanto maior é a fixação de carbono, mais oxigénio é libertado pela árvore. Por cada quilo de carbono sequestrado, são libertados cerca de 2,67 quilos de oxigénio. Como o eucalipto fixa entre 4 e 9 toneladas de carbono por hectare, por ano, pode libertar, anualmente, entre 11 e 24 toneladas de O2 por hectare, o suficiente para a sobrevivência de 37 a 80 pessoas durante esse período.
Mas não são apenas as árvores que fixam o carbono. Os solos florestais são reservatórios com valores de stock superiores aos existentes na vegetação, graças ao material vegetal que cai e se incorpora, e, no caso das plantações exploradas comercialmente, dos sobrantes do corte, para além da biomassa das raízes. Na contabilização dos fluxos de carbono de três ecossistemas mediterrânicos – eucaliptal, pastagem e montado de sobro –, ficou comprovada a vantagem da floresta e, dentro desta, do eucalipto. Um estudo de referência realizado no sul de Portugal, e publicado em 2007 por J. S. Pereira e outros, concluiu que o eucaliptal – no caso em análise, gerido pela The Navigator Company, na Herdade de Espirra, com uma produtividade de cerca de 10 metros cúbicos anuais por hectare – permitiu fixar 10 a 13 vezes mais carbono em anos secos e quatro a seis vezes mais em anos chuvosos do que o montado e a pastagem.
Elevada sustentabilidade
As florestas plantadas – que representam 7% da área florestal mundial (290 milhões de hectares) – são uma solução eficiente na luta contra a desflorestação. Ao satisfazer um terço das necessidades de madeira utilizada na indústria, esta oferta alivia a pressão sobre as florestas primárias e sobre a cadeia alimentar. Ao substituir a celulose que provém de produções agrícolas para o fabrico de bioprodutos, a biomassa florestal é ainda mais sustentável, porque, em relação à agricultura, a floresta exige menos consumo de energia, tem menores taxas de erosão do solo, tem uma gestão menos intensiva, promove maior biodiversidade e melhora o equilíbrio do ciclo da água.
Também no processo industrial de fabrico de bioprodutos existem inúmeros benefícios na utilização de eucalipto globulus. Por um lado, tem fibras celulósicas com estrutura e morfologia únicas para o fabrico de pasta e papel de qualidade. Depois, devido à sua composição, é “uma matéria mais fácil de processar, com menor impacto ambiental que outras madeiras concorrentes. No processo de branqueamento, por exemplo, pode consumir até cerca de 20% menos químicos, face a outras espécies congéneres”, afirma Carlos Pascoal Neto. Também exige menos quantidade de madeira para produzir a mesma quantidade de pasta, com diferenças que podem atingir os 30%. O globulus tem um rendimento médio de três metros cúbicos por tonelada de pasta. Outras espécies, e mesmo outras variedades de eucalipto, necessitam de 3,8 a 4 metros cúbicos. “No RAIZ temos feito um trabalho de comparação com outras fibras celulósicas, em termos de reciclabilidade para fibra branca, e o globulus aguenta mais dois a seis ciclos. Nos papéis de embalagem castanhos, o globulus surpreendeu-nos mais uma vez – aguentou dez ciclos de reciclagem, enquanto as fibras longas nórdicas aguentaram apenas dois, para garantir o padrão de qualidade de um papel de embalagem kraftliner”, conclui.
“Numa área idêntica, o globulus sequestra três vezes mais carbono que o pinheiro e sete vezes mais que o sobreiro.” Carlos Pascoal Neto, diretor-geral do RAIZ
As florestas plantadas – que representam 7% da área florestal mundial – são uma solução eficiente na luta contra a desflorestação.