Humanidade em dívida com o Planeta

23 de Maio 2024

A Humanidade está a consumir os recursos naturais da Terra a um ritmo alarmante. Este ano, a União Europeia já esgotou o “saldo” ambiental que deveria chegar para os 12 meses e Portugal está prestes a alcançá-lo. Ações e políticas concretas tornam-se cada vez mais urgentes no sentido de garantir um futuro para as próximas gerações.

No dia 28 de maio, Portugal chega ao seu Dia da Sobrecarga da Terra, ou seja, atinge o fim do seu “orçamento” de recursos naturais para este ano. Isto significa que se todas as pessoas no mundo vivessem como os portugueses, os recursos naturais para 2024 estariam esgotados neste dia. Já União Europeia (UE), no conjunto dos seus Estados-membros, atingiu o seu limite no passado dia 3 de maio. Está a viver, desde essa data, de “crédito ambiental” – recursos que só deveriam ser utilizados a partir do início do próximo ano.

O cálculo do Dia da Sobrecarga da Terra aplicado a cada país – ou conjunto de países, como no caso da EU – é feito pela Global Footprint Network (GFN), uma organização reconhecida internacionalmente, responsável pelo conceito de pegada ecológica e pelas contas da quantidade de recursos naturais consumidos. O Dia da Sobrecarga da Terra, para a Humanidade no seu todo, marca a data em que a procura por esses recursos e serviços ecológicos, num determinado ano, excede o que a Terra consegue regenerar nesse mesmo período.

Começou a ser calculado pela GFN em 1971 e, desde então, verifica-se uma tendência para que o Planeta entre em défice cada vez mais cedo, consequência do aumento substancial da nossa pegada ecológica. Nesse primeiro ano, o Dia da Sobrecarga da Terra aconteceu no mês de dezembro, mas desde 1983 que tal não voltou a ocorrer. A Humanidade entra “no vermelho” cada vez mais cedo, salvo variações pontuais, como a que o correu em 2020 devido à pandemia de Covid-19. Em 2023, esse dia calhou a 2 de agosto. Para descobrirmos quando terá de ser acionado o ‘cartão de crédito’ ambiental do planeta em 2024, teremos de aguardar até ao Dia Mundial do Ambiente, 5 de junho, data em que é divulgado o Dia da Sobrecarga da Terra para este ano.

Já sabemos, contudo, segundo os cálculos do GFN, que o primeiro país a esgotar os recursos foi o Qatar, a 11 de fevereiro. Seguiu-se o Luxemburgo, no dia 20, os Emirados Árabes Unidos, a 4 de março, e os Estados Unidos, a 14 de março. Na base da tabela, os últimos países a esgotar os recursos serão a Moldávia e o Quirguizistão, a 28 e a 30 de dezembro, respetivamente.

 

Contas feitas… é preciso agir

O Dia da Sobrecarga da Terra é calculado dividindo a biocapacidade do planeta (a quantidade de recursos ecológicos que a Terra é capaz de gerar num determinado ano), pela Pegada Ecológica da humanidade (a procura desses recursos para esse ano), multiplicando pelo número de dias do ano (365 ou, no caso dos anos bissextos, 366):

Este marco, ao situar-se cada vez mais cedo no calendário, é um claro indicador do desequilíbrio que a Humanidade está a provocar por consumir mais recursos do que a Terra consegue regenerar. Manifesta-se no mau estado dos ecossistemas, na devastação das florestas, na perda da biodiversidade, na escassez das reservas de água doce, na erosão dos solos e na poluição atmosférica, bem como nas alterações climáticas.

Carta aos líderes europeus

No passado dia 3 de Maio, data em que os países da União Europeia esgotaram o seu “orçamento” ambiental anual, mais de 300 organizações da sociedade civil — incluindo as portuguesas Liga para a Proteção da Natureza (LPN), Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), Associação Natureza Portugal/Fundo Mundial para a Natureza (ANP/WWF) e Zero —, assinaram uma carta aberta na qual apelaram aos líderes europeus para que assumam como prioridade política o combate à tripla crise que assola o Planeta – alterações climáticas, perda de biodiversidade e poluição.

Estas organizações salientam que, embora a UE represente apenas 7% da população mundial, se toda as pessoas da Terra vivessem como os europeus, seriam necessários três planetas para satisfazer a sua procura anual de bens naturais. Por isso, insistem na necessidade de se aprofundar e acelerar o Pacto Ecológico Europeu, implementando plenamente os objetivos recentemente acordados e colmatando as lacunas de ambição em matéria de natureza, clima e poluição. O apelo ao aumento dos investimentos públicos para o clima e ambiente e o reforço da participação cívica também fazem parte do conteúdo da carta aberta.

Calcule a sua pegada ecológica

A Pegada Ecológica não é mais que o cálculo do impacto que as nossas ações causam no ambiente, comprometendo a sua capacidade regenerativa. Mas nem só os países têm acesso a estas contas. Existe uma calculadora que permite aos utilizadores individuais perceberem o seu impacto pessoal e descobrirem a sua própria Pegada Ecológica, bem como o seu Dia da Sobrecarga da Terra. Os cálculos são baseados nos resultados nacionais da pegada e da biocapacidade de cada país. Para descobrir o seu impacto, clique aqui.

Se toda as pessoas da Terra vivessem como os europeus, seriam necessários três planetas para satisfazer a sua procura anual de bens naturais.