O papel ajuda a pensar

25 de Março 2021

O arquiteto João Freire Aragão usa a tecnologia para quase tudo na sua profissão. Exceto para o mais importante: pensar a arquitetura é algo que exige papel.

Começou a trabalhar com 19 anos, quando ainda estava na faculdade, e sempre recorreu ao papel. “É uma ferramenta muito importante para o processo de trabalho. Quando quero ´ver´ rapidamente como ficaria alguma coisa num projeto em que estou a trabalhar, recorro sempre a um esboço rápido numa folha de papel”, conta.

Por outro lado, nota, também é importante como ferramenta de comunicação: “O tal esboço rápido é muitas vezes uma forma de mostrar alguma coisa a um colega de trabalho, a um cliente numa reunião ou a um empreiteiro numa obra”.

Na sua profissão, o ciclo digital-papel estende-se ao longo de todo o processo. Por exemplo, quando está a começar um projeto, recorre ao computador, porque, explica, “tenho de pôr as plantas à escala, para depois as imprimir em papel e começar a trabalhar sobre elas à mão”.

Mesmo na faculdade, depois de aprenderem a fazer determinadas tarefas no computador, tinham também de as fazer à mão, em papel. “Era a forma de nos incutir um processo de trabalho com base no desenho à mão, para nos apercebermos o quão importante é”, esclarece.

Exemplificando, diz: “Quando estou a fazer uma planta à mão, para além de estar com atenção a cada detalhe que lá ponho, começo a desenvolver uma relação com a escala e a proporção muito mais consciente do que se fizesse todo esse processo no computador. No digital, a escala do desenho é mutável, porque estou sempre a fazer ´zoom-in, zoom-out´ para ver alguma coisa. Ao passo que no papel temos sempre uma relação muito mais verdadeira com a escala, pois é uma coisa estática, imutável”.

Este jovem arquiteto de 24 anos refere que, apesar de “todos os desenhos e outras peças finais em arquitetura já serem feitos digitalmente”, há um aspeto em que o papel permanece fundamental: o pensamento.  “Onde a tecnologia não consegue substituir o papel é no processo de pensar a arquitetura”, sublinha.