O valor dos serviços do ecossistema

17 de Novembro 2022

Os benefícios que a natureza oferece à humanidade não são remunerados, mas podem ser quantificados. O conceito de “serviços do ecossistema” tem surgido cada vez mais associado à necessidade de valorização destas valências. E a floresta está no topo dos ecossistemas com serviços mais valiosos.

A natureza não cobra um pagamento às sociedades e economias pelos benefícios que lhes oferece. E por isso, durante muito tempo, considerou-se que estes eram garantidos e ilimitados. Mas, à medida que se percebeu que são bens finitos, quantificar o seu valor tornou-se uma necessidade — até para os valorizar, preservar e proteger. Um artigo publicado na revista científica Nature, em 1997, por um grupo de ecologistas e economistas, sobre o valor dos serviços do ecossistema foi um marco para o estabelecimento do conceito.

Passou a usar-se a expressão “serviços do ecossistema” para referir a multiplicidade de benefícios que a natureza proporciona à sociedade. Estes serviços tornam a vida humana possível, por exemplo, fornecendo alimentos e água potável, regulando as doenças e o clima, possibilitando a polinização das plantações e a formação do solo e proporcionando benefícios recreativos, culturais e espirituais. A definição é da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) e dela se conclui que se incluem nos serviços do ecossistema tanto bens materiais como imateriais.

Poderíamos pensar que é tal a dimensão dos benefícios da natureza para a sociedade e para a vida humana, que o valor de tais serviços não seria quantificável. Mas vários organismos procuram traduzi-los em valores financeiros. Em 2014, segundo a FAO, o valor anual global dos serviços do ecossistema foi estimado em 125 biliões de dólares.

Classificar para quantificar

Para fazer estes cálculos, foi preciso, antes do mais, definir com rigor o que são os serviços do ecossistema. O Millennium Ecosystem Assessment foi o primeiro grande projeto que procurou, a nível global, determinar como as alterações nos ecossistemas afetam o bem-estar humano. O trabalho envolveu 1.360 peritos de todo o mundo e decorreu entre 2001 e 2005. Os serviços do ecossistema foram definidos através de uma divisão em quatro grandes áreas:

  • aprovisionamento — serviços relacionados com o fornecimento de bens materiais como alimentos, água ou madeira.
  • regulação — serviços que asseguram, por exemplo, a manutenção do ciclo hidrológico, a qualidade do ar, a regulação do clima através do sequestro e armazenamento de carbono ou a continuidade das culturas pela polinização.
  • culturais e de recreio — benefícios não materiais, como a inspiração, a identidade cultural e o bem-estar físico, mental e espiritual, obtidos através de experiências em contacto com a natureza.
  • suporte — processos necessários para a produção de todos os outros serviços, permitindo a diversidade de espécies, através por exemplo da fertilidade do solo.

Outros métodos e sistemas foram, entretanto, propostos para a avaliação e quantificação do valor dos serviços do ecossistema, incluindo alguns criados por países para sua classificação interna.

Em 2009, surgiu o CICES (Common International Classification of Ecosystem Services) que é, na atualidade, o sistema de classificação mais utilizado por organismos internacionais e por cientistas que estudam o tema. Estabeleceu equivalências entre todos os outros sistemas já existentes e propôs uma linguagem internacional comum. O CICES reduziu os serviços do ecossistema a três áreas em vez de quatro — aprovisionamento, regulação e cultura — considerando os serviços de suporte como subjacentes ou estruturais do que constitui um ecossistema.

Em 2012 a União Europeia adotou o CICES. E em 2021, um relatório do projeto europeu INCA (Integrated Natural Capital Accounting) revelou que, em 2019, o valor de dez serviços de diferentes ecossistemas da União Europeia ascendia a 234 mil milhões de euros.

As florestas e os seus benefícios

As florestas e outras áreas florestadas são o ecossistema com mais valor, entre os dez analisados no relatório do INCA. A multiplicidade de serviços que presta vai desde o sequestro de carbono, ao fornecimento de madeira, passando pela redução da probabilidade de cheias e pela purificação da água. E ainda pelo uso recreativo da natureza. Estima-se que os serviços dos ecossistemas florestais tenham gerado, em Portugal, em 2018, mais de 880 milhões de euros (1).

Incluem-se nestes ecossistemas as florestas plantadas, cujo papel no sequestro de carbono, por exemplo, é muito relevante. As florestas plantadas geridas de forma sustentável estão na origem não só de bens e serviços valorizados pelo mercado (tais como a madeira, a cortiça ou a resina), mas também de um conjunto de benefícios para a sociedade decorrentes dessas boas práticas de gestão. Além do sequestro de carbono, contam-se entre eles a produção de oxigénio, a promoção de biodiversidade, a proteção do solo, a regulação dos regimes hidrológicos torrenciais ou a criação de valor paisagístico.

Os serviços do ecossistema tornam a vida humana possível, fornecendo alimentos e água potável, regulando as doenças e o clima, possibilitando a polinização das plantações e a formação do solo e proporcionando benefícios recreativos, culturais e espirituais.

A multiplicidade de serviços prestados pelos ecossistemas florestais vai desde o sequestro de carbono ao fornecimento de madeira, passando pela redução da probabilidade de cheias, pela purificação da água e pelo uso recreativo da natureza.

(1) MENDES, Américo, “Quanto vale a floresta portuguesa?”, in florestas.pt