Vamos ler?

6 de Setembro 2021

O gosto pela leitura pode cultivar-se na família, fazendo de cada criança um leitor para a vida.

A leitura é uma das habilidades mais importantes do ser humano e, ao mesmo tempo, uma das principais condições para aprender. Por isso, escola e família têm uma responsabilidade acrescida na forma como podem potenciar a aquisição da competência leitora e fazer de cada criança um leitor para a vida.

Ler em papel tem inúmeras vantagens na aprendizagem, com vários estudos científicos dedicados a esta matéria a deixarem conclusões esclarecedoras (para informações detalhadas sobre este tema, consulte aqui a edição nº6 da nossa revista).

Por exemplo, uma investigação da Universidade da Califórnia estima em mais 50 por cento a aprendizagem de novas palavras nos leitores de livros em papel, revelando ainda que as crianças que são estimuladas pelos pais a lerem livros começam a formar frases completas mais cedo do que aquelas que só veem televisão. E uma meta-análise da Universidade de Valência demonstrou que quando se lê em papel compreende-se melhor o que é lido, e isto é particularmente evidente nas crianças.

Ainda assim, as nossas crianças leem pouco. Mais: em Portugal, há casas sem livros e pessoas que os encaram como objeto estranhos, fruto de uma longa história de “renitência” à leitura. Perante tal cenário, como incutir o gosto pela leitura nas crianças?

“Há um sem número de estratégias para incentivar e educar para a leitura em contexto familiar e escolar”, revela João Manuel Ribeiro, escritor e diretor da associação Tropelias & Companhia, vocacionada para a promoção e divulgação da literatura infantojuvenil. O simples ato de ler para a criança acaba por ser o mais proveitoso. “Ler com a criança, ler para a criança, ler, simplesmente, é, de longe, a melhor maneira de incentivar (e educar) o gosto pela leitura”, diz, justificando: “Se uma criança vê os pais e os professores a ler e a falar com entusiasmo dos livros que leem, é provável que queira experimentar também, que queira percecionar por que razão aquelas pessoas com quem se relaciona leem e gostam de ler”.

Dito isto, prossegue, há algumas estratégias que podem ser promovidas: “a leitura em voz alta, a leitura por prazer (em que são as crianças que decidem o que ler), as conversas informais sobre os livros lidos, a leitura em família (leituras intergeracionais), a leitura associada a outras formas de arte (como a ilustração, o teatro/performance, a dança, a música)…”. É importante que a leitura não seja uma imposição, mas algo que se associe a diversão e emoção.

 Dez minutos por dia

O Plano Nacional de Leitura (PNL), através dos programas “Já Sei Ler” e “Leitura em Vai e Vem”, projetos de promoção de leitura dirigidos aos pais e professores de crianças do pré-escolar e do 1º ciclo, enumera alguns princípios para os aconselhados dez minutos por dia de leitura em conjunto. E lembra que “ler com as crianças ajuda-as a gostarem de livros, a aprenderem a ler e a lerem cada vez melhor”.

Para os pais de crianças do 1º ciclo, aqui ficam algumas dicas:

  • Escolha um lugar confortável e sossegado e sentem-se de forma a que possam observar bem as imagens e o texto.
  • Se a criança ainda não sabe ler ou tem dificuldades, vá apontando cada palavra e pronuncie-a claramente; quando ela já conhece algumas palavras, leiam ao mesmo tempo e, sempre que possível, deixe que ela leia primeiro.
  • Converse sobre o que vai lendo e vendo nas ilustrações e, sobretudo, assegure-se que a criança está a gostar.
  • Se o livro for grande, leia-o em vários momentos.
  • Se a criança der sinais de cansaço ou de desinteresse, tente no dia seguinte.
  • Quando a criança já sabe ler, deixe-a ler sozinha em voz alta, acompanhando-a em silêncio.
  • Se a criança pedir, volte a ler a mesma história várias vezes.
  • Quando acabar de ler, converse com ela sobre o que mais gostou no livro.

 Mais sucesso e afeto

As vantagens da leitura são muitas. Um estudo realizado pela American Academy of Pediatrics mostra que ler livros para as crianças no início da infância contribui para aumentar o vocabulário e as habilidades de leitura quatro anos depois. Mas há outros benefícios: contribui para o desenvolvimento cognitivo; aumenta as capacidades de comunicação e expressão; favorece o desenvolvimento emocional; potencia o gosto pelo conhecimento e a curiosidade; ajuda na pronúncia correta das palavras e melhora a concentração e a memória.

A par destas competências, acresce outra muito importante: a capacidade de imaginação – os livros constroem dimensões fictícias, cenários e personagens imaginários – e a estimulação da criatividade. De notar ainda que muitos contos transmitem uma moral, pelo que a leitura também é importante na formação da personalidade, dos valores e na definição do que é certo e errado.

Finalmente, como lembra o PNL, “a leitura torna as crianças mais calmas” e ajuda-as a ganhar autoconfiança e poder de decisão. Por outro lado, “as imagens, informações e ideias dos livros alargam o conhecimento do mundo e ajudam a ter mais sucesso na escola e na vida”.