Vida selvagem: o frenesim do outono

3 de Outubro 2023

Para inúmeras espécies de animais, o outono traz desafios acrescidos e dias mais intensos e preenchidos. O abrandamento só virá depois.

No outono os dias ficam mais curtos e mais frios, mas não se pense que tal representa um maior vagar nos ritmos da natureza ou que a vida selvagem entra numa espécie de recolhimento coletivo. Isso só será verdade uns meses mais tarde, com a chegada do inverno. Na verdade, para muitas espécies de animais, o outono é uma época de intensa atividade e com múltiplos desafios e exigências: seja ao nível dos ciclos da reprodução, das “maratonas” para armazenar alimentos, ou ainda das grandes viagens, no caso das aves migratórias. Conheça algumas espécies que acabaram de entrar num verdadeiro frenesim anual.

Veados

Veados: a reprodução que faz emagrecer 

No outono, os veados entram na época reprodutiva. A chamada brama, nome dado aos seus rituais de acasalamento, inclui vocalizações impressionantes, por parte dos machos, possíveis de ouvir a muitos quilómetros de distância. Além disso, estes envolvem-se em lutas intensas, encaixando as hastes e empurrando-se mutuamente. São rituais que têm por objetivo, por um lado, defenderem o território e, por outro, atraírem as fêmeas.

Os machos concentram toda a sua energia no objetivo de acasalar, podendo perder cerca de 40% do seu peso. Isto acontece porque, durante a brama, deixam praticamente de se alimentar. A brama pode durar aproximadamente um mês, e acontece entre setembro e novembro. Em Portugal, existem veados (Cervus elaphus) na Serra de Monchique, no Parque da Natureza de Noudar, na Serra de São Mamede, na Serra da Lousã e nas Serras da Nogueira e de Montesinho.

Esquilo

Esquilos: o intenso e laborioso trabalho de armazenar alimento

O outono é a melhor época do ano para observar esquilos e a razão é simples: esta é a altura em que entram numa verdadeira azáfama em busca de alimentos. Os frutos secos e sementes ficam maduros, mesmo a tempo de serem armazenados para o inverno. Por isso, os esquilos passam mais tempo a alimentar-se, mas também a procurar e a guardar estes frutos nas suas tocas e esconderijos.

Os esquilos vermelhos (Sciurus vulgaris) são a única espécie existente em Portugal. Como adoram pinhas, os pinhais são um bom local para tentar avistá-los. Por vezes, as pinhas são enterradas no solo e depois acabam por ser esquecidas. No seu frenesim de outono, estes animais, tal como outros pequenos roedores, acabam por tornar-se aliados da regeneração florestal, ao contribuir para a dispersão de sementes.

Urso

Ursos: como comer cinco vezes mais

Tal como no caso dos esquilos, para a maior parte das espécies de ursos, o outono é aquela época em que a alimentação é o assunto prioritário. Tornam-se muito mais ativos do que na primavera e no verão, investindo grande parte da sua energia a caçar e a procurar alimento. A dieta do urso-pardo (Ursus arctos), por exemplo, pode incluir desde insetos a peixe, aves e pequenos mamíferos, mas também frutos secos e plantas.

No inverno, os ursos hibernam, mas para isso têm de preparar-se no outono, aumentando as suas reservas de energia. Um urso adulto pode consumir 20 mil calorias por dia, nesta época, o que significa cinco vezes mais do que nos meses anteriores. No final do outono, os ursos desenvolveram uma espessa camada adiposa que serve de isolamento térmico, ajudando-os a manter uma temperatura corporal adequada, durante os longos invernos.

Aves

Aves: saídas à noite e longas viagens

Espécies como as corujas, noturnas e carnívoras, tornam-se especialmente ativas no outono, devido ao aumento da disponibilidade de alimento. Os pequenos roedores são as suas presas preferenciais, e como estes estão a circular, em busca de alimento, durante mais horas por dia, as corujas aproveitam essa “abundância”.

Já para as aves migratórias, parte do outono é passado em longas viagens que empreendem para os destinos de invernada. Portugal é um desses destinos finais, para algumas espécies como o abibe (Vanellus vanellus) ou o flamingo (Phoenicopterus roseus).

Mas também há aquelas que apenas passam pelo nosso país, onde fazem uma pausa estratégica, para descansarem e se alimentarem, antes de prosseguirem para países mais quentes, no continente africano. É o caso, por exemplo do cartaxo-nortenho (Saxicola rubetra) ou do papa-amoras (Sylvia communis).

Conservação nas florestas Navigator

A The Navigator Company, que gere um extenso património florestal de cerca de 106.000 hectares em Portugal, adota uma estratégia de conservação através da qual implementa um conjunto de ações de gestão, que incluem a manutenção de áreas-tampão para proteção de habitats valiosos, e adia operações de exploração e manutenção silvícola quando essas ações coincidem com o período de nidificação de algumas aves.

E é exatamente no período entre o outono e a primavera que a empresa procede ao acompanhamento de nove locais de nidificação da águia-de-bonelli (Aquila fasciata), tendo sido também acompanhado um local de nidificação de cegonha-preta (Ciconia nigra).

No património sob sua responsabilidade, em Portugal continental, a Navigator gere áreas consideradas como Zonas com Interesse para a Conservação (ZiC), que servem de importante habitat a flora e fauna diversa, onde se incluem espécies com diferentes estatutos de conservação e proteção.

Para integrar a conservação da biodiversidade no seu modelo de gestão florestal, a companhia desenvolve uma estratégia com vista a manter (no net loss) ou melhorar (net positive gain) a biodiversidade existente no património e o seu estado de conservação.

A Navigator investe continuamente em ações de monitorização e avaliação, proteção e conservação ativa – como a requalificação e restauro de habitats naturais e ecossistemas –, beneficiando as espécies que os utilizam para realizar as suas funções ecológicas de alimentação, refúgio ou reprodução.