Árvores antigas: um património precioso

19 de Junho 2023

Oferecem estabilidade, força e proteção a ambientes em risco. As árvores antigas desempenham um papel vital na biodiversidade e na preservação dos ecossistemas.

As árvores antigas são representadas em histórias que preenchem o nosso imaginário como símbolos de sabedoria, força e continuidade. Desde a “Macieira de Ouro” que, na mitologia grega, representa a imortalidade, passando pela “Árvore de Gondor” que, no livro “O Senhor dos Anéis”, simboliza a resistência contra as forças do mal, até à “Árvore das Almas” que, no filme “Avatar”, é vital para o ecossistema do planeta, são árvores frequentemente associadas a mitos, lendas e práticas tradicionais. Esta simbologia está diretamente relacionada com o facto de as árvores serem fundamentais para a saúde do planeta – elas fornecem oxigénio, regulam o clima, conservam a biodiversidade e melhoram a qualidade de vida.

Num artigo de revisão científica publicado no final de 2022, na revista Trends in Ecology & Evolution, um grupo de ecologistas salienta a relevância da conservação de árvores monumentais e propõe o desenvolvimento de um projeto que garanta a proteção e longevidade das árvores.

Com o nome “Árvores antigas: recurso de conservação insubstituível para o restauro de ecossistemas”, o artigo chama a atenção para o papel que desempenham na manutenção da saúde e da diversidade dos ecossistemas, assim como para a capacidade de fornecerem informações sobre as alterações ambientais ocorridas ao longo dos séculos. Além de constituírem habitats únicos para a conservação de espécies ameaçadas e de exercerem uma ação de “amortecimento” sobre o aquecimento global, contribuem para a complexidade ecológica, ao abrigarem uma grande variedade de espécies, incluindo plantas, animais e microrganismos.

Ameaças e estratégias de conservação

Apesar da sua importância, estas árvores estão a perder-se a um ritmo alarmante, a nível mundial. A desflorestação e as alterações climáticas constituem ameaças significativas e, de acordo com os autores deste mesmo estudo, “uma vez cortada uma árvore antiga, perde-se para sempre o legado genético e fisiológico que contém, além do seu habitat único”. Por esse motivo, propõem uma estratégia de ação em duas vertentes:

  1. Promover a conservação das árvores antigas através da propagação e preservação do germoplasma (conjunto dos diferentes genótipos de uma determinada espécie);
  2. Criar, à escala global, uma plataforma de conservação que, através do mapeamento e monitorização, apoie a preservação de florestas antigas. Este trabalho de mapeamento seria feito com o apoio das comunidades locais, através de uma aplicação dedicada.

Para que possam ser contornados os constrangimentos políticos locais, os cientistas propõem que “o mapeamento e monitorização das árvores, como indicador-chave da eficácia das áreas protegidas em manter e restaurar a integridade da floresta, para um futuro sustentável”, seja acrescentado à Convenção Sobre a Diversidade Biológica, nomeadamente no artigo 15.º (Acesso aos recursos genéticos).

Em Portugal, a Oliveira do Mouchão, na freguesia de Mouriscas, próximo de Abrantes, tem cerca de 3.350 anos e é considerada a árvore mais antiga de Portugal. Saiba mais sobre ela e sobre outras árvores antigas a nível mundial no nosso artigo “As mais antigas árvores vivas”.


O que define as “árvores antigas”?

Segundo o artigo publicado na Trends in Ecology & Evolution, são árvores raras que são extraordinariamente velhas (com muitos séculos) para a sua espécie – frequentemente dez a vinte vezes mais velhas que a árvore média na floresta.

Usualmente, de copa pequena e tronco muito largo e oco, as árvores antigas estão definidas, no guia de identificação de árvores da Woodland Trust, como aquelas que já ultrapassaram a maturidade, são muito velhas em comparação com outras árvores da mesma espécie e estão no terceiro e último estágio de sua vida: “Quanto mais velha for a árvore, mais valiosa se torna. Pelo facto de ainda estarem presentes na paisagem, as árvores antigas mantêm uma ligação biológica, histórica ou cultural, para além de proporcionarem um habitat muito valioso para a vida selvagem. Podem ser necessárias várias centenas de anos para que este habitat especial seja criado e se torne adequado para muitos fungos e animais raros e especializados. A madeira em decomposição de uma árvore antiga é um dos habitats mais importantes que existem na Europa, pelo que é vital conservar todas as nossas árvores antigas”, refere o documento.

Uma vez cortada uma árvore antiga, perde-se para sempre o legado genético e fisiológico que contém, além do seu habitat único.